• Matéria: Português
  • Autor: ruanpontesdh
  • Perguntado 4 anos atrás

Texto:

7 de novembro
Nascer rico é uma grande vantagem que nem todos sabem apreciar. Qual não
será a de nascer rei? Essa é ainda mais preciosa, não só por ser mais rara, como
porque não se pode lá chegar por esforço próprio, salvo alguns desses lances tão
extraordinários, que a história toda se desloca. Sobe-se de carteiro a milionário; não
se sobe de milionário a príncipe.
Entretanto, dado o caso de vocação (porque a natureza diverte-se às vezes em
andar ao invés da sociedade), como há de um homem que sente ímpetos régios,
combinar o sentimento pessoal com a paz pública? Aí está o caso em que nem o
mais fino Escobar era capaz de resolver; aí está o que resolveram alguns cidadãos
de Guaratinguetá.
Reuniram-se e organizaram uma irmandade de Nossa Senhora do Rosário, que
é irmandade só no nome; na realidade, é um reino; e tudo indica que é o reino dos
Céus. Os referidos cidadãos acharam o meio de cingir a coroa sem vir buscá-la a
São Cristóvão: elegem anualmente um rei, e a coroa passa de uma testa a outra,
pacificamente, alegremente, como no jogo do papelão. Aqui vai o papelão. O que traz
o papelão?
No presente ano (1883-1884), o Rei da irmandade é o Sr. Martins de Abreu, nome
pouco sonoro, mas não é de sonoridade que vivem as boas instituições. A Rainha é
a Sra. D. Clara Maria de Jesus. Há um Juiz do Ramalhete, que é o Sr. Francisco Ferreira, e uma juíza do mesmo Ramalhete que é a Sra. D. Zelina Rosa do Amor Divino.
Não há a menor explicação do que seja este ramalhete. É realmente um ramalhete
ou é nome simbólico do principado ministerial?
Segue-se o Capitão do Mastro. Este cargo coube ao Sr. Antônio Gonçalvez Bruno, e não tem funções definidas. Capitão do Mastro faz cismar. Que mastro, e por
que capitão? Compreendo o Juiz da Vara; compreendo mesmo o Alferes da Bandeira.
Este é provavelmente o que leva a bandeira, e, para supor que o capitão tem a seu
cargo carregar um mastro, é preciso demonstrar primeiramente a necessidade do
mastro. Já não digo a mesma coisa do Tenente da Coroa, cargo desempenhado pelo
Sr. João Marcelino Gonçalves. Pode-se notar somente a singularidade de ser a coroa
levada por um tenente; mas, dadas as proporções limitadas do novo reino, não há
que recusar. Há também um sacristão, que é alferes, o Sr. alferes Bueno, e... Não;
isto pede um parágrafo especial.
Há também um (digo?) há também um Meirinho. O Sr. Neves da Cruz é o encarregado dessas funções citatórias e compulsivas, e provavelmente não é cargo
honorífico; se o fosse, teria outro nome. Não; ele cita, ele penhora, ele captura os
irmãos do Rosário. Assim, pois, esta irmandade tem um tesoureiro para recolher o
dinheiro, um procurador para ir cobrá-lo e um meirinho para compelir os remissos. Un
capo d'opera.
Agora, como é que se tratam uns aos outros esses dignitários? Não sei; mas
presumo, pelo pouco que conheço da natureza humana, que eles não ficam a meio
caminho da ficção. O Rei pode ter Majestade, e assim também a Rainha. E quando
receberem os cumprimentos, adivinho que os receberão com certa complacência
fina, certo ar digno e grande. Hão de chover os títulos — Vossa Majestade, Vossa
Perfumaria, Vossa Mastreação... Em roda o povo de Guaratinguetá, e por cima a lua
cochilando de fastio e sono.

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QUESTÃO) No período final “Em roda o povo de Guaratinguetá, e por cima a lua
cochilando de fastio e sono”, o autor:

A. ( ) mostra as pessoas contemplando a lua.
B. ( ) faz um deslocamento do interesse das pessoas para a lua.
C. ( ) revela a grandeza da situação de Guaratinguetá.
D. ( ) reforça a idealidade dos cargos da cidade de Guaratinguetá.

Respostas

respondido por: brendagcarvalho16
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