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Nossa vida
Lá em casa, a situação estava difícil. O pai tinha ficado desempregado. A mãe achava que
qualquer trabalho podia pelo menos pagar a comida. A gente morava em Mambaí, Estado de
Goiás. Aí apareceu um emprego numa fazenda pro lado dos Gerais da Bahia, bem perto da
fronteira. Fui trabalhar junto com meus irmãos nessa tal fazenda. Era o projeto de um grande
banco, apoiado pelo governo.
A fazenda dizia que pagava o salário, mas nunca existiu salário nenhum. No final do mês,
tudo que se comia ou se usava era descontado. Não sobrava nada de dinheiro. E a gente era
obrigada a trabalhar de sol a sol.
─ Trabalho escravo ─ disseram os peões de Mambaí que já tinham passado por isso.
─ Mas usar criança é judiação! ─ falou um dia o dono do bar.
Disseram também que essas fazendas usam crianças como trabalhadores porque fica
mais barato. Quatro ou cinco custam o mesmo que um adulto, comem menos, obedecem melhor
e cada uma faz o trabalho de gente grande.
O capataz da fazenda dizia que o dinheiro podia sobrar se a gente trabalhasse direito. Ouvi
falar de gente que saiu de lá com dívida, mas não com dinheiro.
Se pelo menos a gente estivesse se alimentando bem... Minha mãe não sabia que a
comida na fazenda era ruim. Achava que era frescura de criança. Mas não era, não. De
manhãzinha, café aguado com pão duro. No almoço, só coisa de entupir ─ macarrão puro ou
arroz com farinha.
Pro serviço na fazenda render, o capataz fazia a gente trabalhar firme. Eu tenho catorze
anos. Sou forte. Mas meus irmãos e um monte de outras crianças com corpinho fraco faziam
serviço pesado de adulto ─ roçar e capinar era duro de lascar, mas a gente ainda aguentava. O
pior era carregar carrinhos de mão pesados, cheios de material para a lavoura.
Ninguém tem ideia da vida dura que a gente levava nessa fazenda dos Gerais da Bahia.
Paula Saldanha. “Heróis dos Gerais”. São Paulo, FTD, 1998, p. 7-9.