Como é ser uma viajante negra: relato e reflexões de Thainá Santos.
VIAJANTES | 19/11/18
O relato da viagem
71 dias que eu fui, sem avisar ninguém.
Foi melhor assim, porque não queria que outras expectativas, dúvidas e medos além dos que eu já tinha
influencia sem a decisão de ir.
Meus pais não fizeram faculdade, não têm formação, e talvez a viagem mais longa dos dois tenha sido
da Bahia pra cá (São Paulo).
Nascer mulher, negra e com um núcleo familiar que me apoiou, não me deixou trabalhar na infância e
me instruiu como pôde fez de mim quem sou.
(...)
Saí na loucura, no medo e na coragem. Como tinha que acontecer, consegui
um trampo em Malta (quê? onde fica?), um país entre a Itália e a Tunísia. Mo-
rei na segunda maior ilha do arquipélago sem saber me comunicar nem em
inglês, nem em maltês (idiomas de Malta). O trabalho? Um local que oferecia
aulas de meditação e yoga.
Conheci pessoas que me ajudaram e dificultaram esse rolezão e aprendi
com todas. Queria que todo mundo tivesse a oportunidade de ver o que eu vi
e conhecer o mundo através dos olhos dessas pessoas.
Não tinha dinheiro pra continuar viajando, mas queria continuar. E aconteceu:
em cada lugar conheci uma pessoa que me ofereceu a sua casa pra me hos-
pedar durante essa loucura, que passou por Paris, Barcelona, Madri e Toledo.
Foto: Acervo da autora.
Felizmente, eu conseguia cada lugar desesperadamente antes de ir e não dava tempo de planejar um
roteiro turístico (eu mesma, turismóloga). Eu só ia e saía pela cidade com cada anfitrião que me rece-
beu. Teve aniversário, piquenique, festival de rua, negociações duvidosas, esperar pessoas saírem do
hospital, topei de tudo no embalo.
Andei de ônibus, trem, boeing, aviões precários, barco, carona, blablacar e até descalça quando meu
chinelo quebrou indo a pé de Popeye Village para Mellieha em Malta.
Além de conseguir me comunicar em mais de uma língua, uma das coisas mais importantes quando
decidi ir era observar em que pé estavam as posições sociais da população negra em cada lugar.
(...)
Fiquei desconfortável muitas vezes, mas não quando era chamada de irmã, ou quando alguém pergun-
tava em francês de qual país do continente africano eu era. Procurei coletivos, organizações e militan-
tes independentes na França pra entender sobre o feminismo negro lá.
(...)
Depois de anos estudando turismo, finalmente vi com meus olhos como o turismo está inserido dentro
de um espectro mais abrangente da educação cultural/autoestima cultural na prática e pode ser a cha-
ve de muitas portas que se abrem, longe de casa.
Pra ficar mais claro: eu escureci.
COMO é ser uma viajante negra: relato e reflexões de Thainá Santos. Janelas Abertas. Disponível em: <https://janelasabertas.
com/2018/11/19/viajante-negra/>. Acesso em: 17 maio 2021.
1 – O relato de viagem faz parte do gênero narrativo. Tendo em vista essa afirmativa, é correto afirmar
que, como no gênero conto, existe nele a presença de um conflito? Justifique sua resposta.
2 – Observe as formas verbais presentes no relato de viagem em análise.
a) No texto, a maior parte dos verbos está empregada na primeira pessoa do singular. Levante
hipóteses, por que isso acontece?
b) As ações e os fatos apresentados no relato lido localizam, majoritariamente, em qual momento
do tempo? Justifique sua resposta com base em exemplos do texto.
c) Releia o fragmento a seguir: “Fiquei desconfortável muitas vezes, mas não quando era cha-
mada de irmã, ou quando alguém perguntava em francês de qual país do continente africano
eu era”. Por que as formas verbais foram empregadas ora no pretérito perfeito ora pretérito
imperfeito do indicativo?
3 – Ao ler o relato de Thainá Santos, é muito provável que tenha tido a impressão de estar “conversando”
com ela. Por que isso acontece? Exemplifique com trechos do próprio texto.
4 – Qual é o objetivo do relato de viagem?
a) Propor reflexões, explicar, orientar, opinar, influenciar o imaginário coletivo sempre com base
em um episódio de viagem.
b) Levar o leitor a sentir as emoções e os sentimentos expressos sobre um fato ou acontecimen-
to marcante da vida de uma pessoa.
c) Proporcionar ao leitor a imersão em uma história de ficção que o entretenha, desperte sua
imaginação, sentimentos ou reflexão; tudo isso, de uma forma bem estruturada e relativamen-
te curta.
d) Apontar os acontecimentos importantes do dia a dia de uma pessoa, com o objetivo de guardar
lembranças ou desabafar.
e) Narrar uma história, exclusivamente, pela sequência de fatos, apontando os princípios e valo-
res do enunciador
agatinhagamerbr:
cade o resto ze
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Resposta:
no Brasil é comum ouvir críticas severas ao mau uso em dinheiro dos impostos por algum Prefeito pesquise o dinheiro dos impostos tem sido muito grave pecado município onde
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