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Parte da expansão da África pode ser explicada por seu crescimento populacional explosivo. Desde 2000, a população dos 11 maiores países subsaarianos, medida pelo PIB, cresceu 41%, para 634 milhões, ou mais de duas vezes o total de 318 milhões dos EUA, segundo dados compilados pela Bloomberg.
O que explica essa aceleração? Segundo Luis Padilla, analista para a África da OCDE, “cinco fatores foram decisivos: a forte demanda dos países emergentes por matérias-primas, o boom demográfico, uma classe média em ascensão, um mercado interno mais dinâmico e um crescente investimento estrangeiro”.
Este verdadeiro ciclo virtuoso começou com o sucesso das matérias-primas, no início dos anos 2000, impulsionado pelas compras feitas por empresas chinesas, ávidas de recursos minerais e agrários, e que não se deteve apesar da desaceleração da economia asiática. Mas essa foi apenas a alavanca inicial. A África já é muito mais do que minerais. Alguns países aproveitaram os rendimentos do petróleo, do cobalto e do cobre para realizar uma transformação econômica que começa a dar resultados. A primeira missão que se impuseram foi aproveitar a intervenção do FMI para conquistar certa estabilidade econômica. “Por causa dos desequilíbrios que sofriam, como inflação, dívida ou setores públicos superdimensionados, esses países não tiveram outra saída senão se submeterem, no início dos anos 2000, à medicina do FMI. O que lhes caiu bem, porque agora estão bastante estabilizados, com as contas públicas controladas e baixa inflação”, explica Manuel de la Rocha Vázquez, economista da Fundação Alternativas.
Tudo isso foi seguido de um árduo trabalho de modernização das estruturas econômicas, burocráticas e judiciais, que, de acordo com De La Rocha, “melhoraram muito a segurança jurídica e o ambiente para os negócios”, e ainda ajudaram os países mais avançados – Nigéria, Quênia, Gana, Angola – a atrair mais investimentos e projetos empresariais. Por fim, houve também um esforço das elites locais para conquistar uma maior estabilidade política. Apesar de ainda existirem ditaduras e de algumas das democracias serem de baixa qualidade, a democracia segue avançando. “Ainda que seja difícil de generalizar, existe toda uma transição política em andamento, o que dá confiança aos investidores”, reconhece Vicente Dorta, diretor geral da Câmara de Comércio de Tenerife, a que mais tem relações com a região. Os conflitos que ainda persistem na região do Sahel e no Sudão estão cada vez mais esporádicos no resto da África.
Outro dado a se levar em conta em um ambiente de crescimento econômico é o da grande demografia africana. Para Guerrero, isso “representa um desafio, mas também uma alavanca de crescimento e uma oportunidade para garantir um crescimento sustentável a longo prazo”. O pesquisador lembra que “a África tem a população mais jovem do mundo, com 200 milhões de pessoas com idades entre 15 e 24 anos, e ressalta que as pessoas em idade para trabalhar cresceram de 440 a 550 milhões entre 2000 e 2008”. Padilla acrescenta que, além disso, a crescente demografia fará da África um mercado gigantesco “que vai, em poucos anos, passar de 1 a 2 bilhões de pessoas”. E estas serão cada vez mais de classe média, já que “nos últimos 10 ou 15 anos, cerca de 400 milhões de africanos se incorporaram nessa faixa”.
A combinação de todos esses fatores está fazendo da África um grande receptor de capital, sobretudo de investimento estrangeiro direto. “Segundo o último relatório Africa Economic Outlook da OCDE, este ano o investimento vai alcançar os 84 bilhões de dólares (quase 187 bilhões de reais), um recorde”, explica Padilla. Além disso, há as remessas de valor de 61 bilhões de dólares e uma ajuda ao desenvolvimento na ordem de 55,2 bilhões de dólares. Boa parte do investimento é destinada à exploração de recursos minerais e petróleo, mas também para instalar empresas e construir infraestrutura. E apesar das empresas chinesas, nos primeiros anos do auge, terem obtido os contratos de construção, agora começam a desembarcar companhias europeias, brasileiras e indianas. Isso porque a necessidade de infraestrutura é enorme. A África continua sendo o continente mais mal equipado do mundo. Apenas um quarto da população tem energia elétrica.