• Matéria: Português
  • Autor: jessicamrdazevedo
  • Perguntado 3 anos atrás

. Folha de S. Paulo

OPINIÃO

Por que os jovens não sabem diferenciar fatos

de opinião?

MAY 20, 2021

Mariana Mandelli

Coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta

A notícia de que 67% dos jovens brasileiros de 15 anos não sabem distinguir fatos de

opiniões provocou um intenso debate nas redes sociais e análises em colunas e textos

jornalísticos nos últimos dias. O dado alarmante faz parte de um novo relatório divulgado

pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no início de

maio, com base nos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes

(Pisa), um exame aplicado a cada três anos em dezenas de países participantes.

A avaliação permite um comparativo entre sistemas educacionais nas áreas de leitura,

matemática e ciências, medindo as habilidades que os alunos dessa faixa etária

desenvolveram durante a escolaridade obrigatória. No caso da distinção entre o que é

factual e o que é opinativo, a medição é dada por meio de questões que exigem o domínio

dessa habilidade. O percentual que mostra o despreparo dos alunos brasileiros supera a

média de todos os países da OCDE, que ficou em 53%
Na periferia, crianças ficaram nove meses sem atividades escolares

De modo geral, o documento, intitulado "Leitores do século 21: Desenvolvendo

habilidades de alfabetização em um mundo digital", traz inúmeras reflexões sobre o

acesso à tecnologia em casa e na escola, o hábito da leitura em multiplataformas e o

esforço das redes de ensino para se adaptarem à era da hiperinformação, mas três pontos

são fundamentais nesse debate e ajudam a responder a questão que dá título a este texto.

O primeiro deles é a desconstrução do mito do "nativo digital", termo cunhado pelo

escritor estadunidense Marc Prensky no início dos anos 2000 para definir crianças e

jovens que nasceram e cresceram em meio às novas tecnologias digitais. Tal expressão

se difundiu de maneira avassaladora, sendo erroneamente interpretada, dando a impressão

de que essa geração, por aparentemente saber manusear celulares e computadores,

também saberia ler, interpretar e participar das mídias online e offline de maneira ética e

responsável.

A segunda reflexão que a OCDE nos traz trata justamente das outras faixas etárias. Se

entre os jovens o índice é tão alto, como isso se manifesta entre adultos e idosos, que

cresceram em um mundo desconectado? Um estudo do Instituto Ipsos publicado em 2018

mostrou que, no Brasil, 62% da população já acreditou em uma informação falsa,

percentual mais alto entre os países avaliados pelo levantamento.

Vale destacar que algumas pesquisas mostram que, entre a terceira idade, a probabilidade

de disseminação de desinformação, especialmente sobre temas políticos, é mais elevada

do que entre os outros grupos, chegando até sete vezes mais, como mostra um estudo de

pesquisadores da Universidade Princeton e da Universidade de Nova York (NYU)

publicado pela revista científica Science Advances em 2019.

Por fim, como terceiro ponto de atenção, o que de mais importante podemos tirar desse

debate é a urgência da educação midiática como um tema estruturante dentro das escolas

— e também fora delas. No caso do ambiente escolar, o Brasil conta com um aparato

legal que garante que essas habilidades sejam desenvolvidas durante a educação básicade maneira transversal, como a própria OCDE destaca no relatório.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é central para isso, pois exige que as

crianças e jovens dominem competências como cultura digital, comunicação

e pensamento crítico em todas as disciplinas, com ênfase na língua portuguesa, em que

há um destaque especial para os conteúdos que tratam das linguagens jornalísticas,

publicitárias e informacionais.

Tal exigência está na BNCC, mas o que estamos fazendo para que isso seja realmente

implementado no sistema educacional? Essa discussão precisa estar nos currículos dos

cursos de Pedagogia e Licenciaturas e também nas iniciativas de formação continuada

para os docentes na ativa. Falta, portanto, uma política educacional nacional que dê conta

do tema, diferenciando educação digital, tecnológica e informacional, e focando na

educação midiática, que abrange todas essas questões.

Em suma, os jovens brasileiros não conseguem diferenciar fatos de opiniões porque essa

é, hoje, uma dificuldade de todos nós. Ninguém foi preparado para o que estamos

vivenciando. Não fomos ensinados a lidar com o que a Organização Mundial da Saúde

(OMS) chamou de infodemia para classificar a avalanche de informações de todos os

tipos sobre a pandemia — e também sobre qualquer outro tema. Apenas ler o que chega

às nossas mãos e telas não é mais suficiente. É preciso fazer uma leitura lateral das

informações e interpretar intenção, autoria e contexto de cada mensagem, sem esquecer

de dominar as ferramentas e (continuação na foto e as perguntas)


Anexos:

jessicamrdazevedo: https://drive.google.com/file/d/1qlX2Rlm6rFeGIZCTb3gm4kTBd7uTrkYz/view?usp=drivesdk

Respostas

respondido por: eduardoo114
1

Resposta:

Complicada essa vixe

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