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Alguns dos mais notáveis tipos de mitos e lendas, nasceram da antiga vivência do homem com o mundo marinho. São inúmeras as fantasias e os diferentes simbolismos, criados em torno do mar e de seus variados, belos e selvagens elementos.
Lendas do mar
Hoje são histórias curiosas, as lendas, os mitos e os mistérios do mar, tanto do Brasil, como de todos os mares do mundo. Tomamos por exemplo as ilhas, que desde a Grécia Antiga, participaram do imaginário dos homens, que aí situaram o paraíso perdido, desde o momento considerados lugares de transgressão moral, onde moravam povos excluídos do ecúmeno conhecido. As que, no entanto, nele se integravam eram consideradas berços da civilização, como ocorria com as ilhas gregas.
As ilhas, na mitologia grega, estão associadas com a imagem do rio Oceanos, esposo de Tétis, que simbolizava as profundezas do mar. Na Ilíada Oceanos e Tétis representavam o casal ancestral, pais dos deuses anteriores aos primeiros momentos da cosmogonia e motor do longo processo que nele se desenrolava. Oceanos era um rio possante, de curso tumultuoso, não-delimitado, num espaço onde não havia nem céu nem terra.
Era um ser masculino, dotado de vida, de sentimentos e de qualidades morais. Tétis era uma massa de água animada que não se podia distinguir do próprio Oceanos. Eles tiveram muitos filhos, sendo os mais conhecidos Urano e Gaia, mas também o velho sábio Nereu, divindade marítima, e as Oceânides. Segundo outros textos mitológicos, o Céu e a Terra saíram da água primordial, que subsistira fora do universo que acabava de formar. A água cercava a terra e Oceanos alimentava todas as fontes e rios por via subterrânea. Apesar de pai dos deuses, o casal era representado como anciãos que habitavam nos confins do mundo, e o local em que as águas do grande rio se originavam era chamado de fonte do oceano. As fontes que Oceanos alimentava seus filhos penetraram no interior das terras e as fertilizaram.
O rio Oceano tinha três mil filhos que eram os rios e outras tantas filhas, as ninfas oceânicas. As longínquas costas do rio oceano eram habitadas por povos fabulosos. A oeste dele estava o gigante Atlas que sustentava o céu nos poderosos ombros. O deus do mar era Poseidon (Netuno), representado pelos cabelos revoltos, inspirando terror profundo, pois com seu tridente podia causar terremotos. Era invocado pelos navegantes e negociantes que lhe rogavam uma boa travessia.
Segundo a mitologia grega, no fundo dos mares habitavam estranhos monstros que obedeciam a Netuno e surgiam das profundezas quando ele ordenava. O carro do rei do mar era puxado por cavalos marinhos, aparecendo, frequentemente, com delfins, amados por Netuno por ter ajudado a raptar a bela e jovem Anfitrite, que se tornou sua esposa.
Na divisão dos poderes no Olimpo, Poseidon ficou com o mar. O mundo marítimo organizava-se da seguinte forma: todos os mares se encontravam em comunicação com o curso longínquo do Oceanos, que por vias subterrâneas alimentava as fontes e os rios. Sua parte salgada era invocada sob o nome de Pontos. Criaturas habitavam seu interior, como Nereu, as Oceânidas e as Nereidas, que às vezes apareciam nas ondas tumultuosas.
Rival infeliz de Zeus, Poseidon era colocado em lugar secundário no culto de numerosas cidades. Ele era um deus irritadiço e, no domínio marinho que controlava, sua cólera fazia irromper tempestades. Os touros que fazia aparecer das ondas provocavam catástrofes e dramas, como o surgimento do Minotauro. Poseidon teve um filho com Anfitrite chamado Tritão e sua descendência foi marcada pelo nascimento de monstros e gigantes.
A mitologia grega privilegiava a ilha, pois três quartos dos deuses do Olimpo eram insulares. Zeus nasceu em Creta, Hera em Samos, Hermes na Arcádia, Apolo em Delos. Prometeu para permitir que o homem escapasse da animalidade capturou o fogo na Ilha de Lemnos; Poseidon – senhor dos mares – se desentendeu como Zeus e Dionísio pela posse da ilha de Naxos.
Para os gregos antigos, a ilhas era lugar de refúgio, espaço de espera antes da ação decisiva; zona de contato entre as diversas culturas, centro de felicidade e testemunho de uma humanidade diferente.
Na Idade Média, desde o século IX, as ilhas eram símbolos portadores de múltiplos significados, sendo tidas como morada dos anjos decaídos, seja como paraísos terrestres, lugares sagrados e morada dos mortos, como sucedia com as ilhas brancas celtas.
No período medieval mais próximo da Grandes Navegações, as ilhas passaram a fazer parte do maravilhoso e exótico associados ao Mar Tenebroso, o Oceano Atlântico. Nelas, os navegantes viam monstros e sereias, mas também os selvagens que viviam sem pecado, num paraíso sem história.
Por largos anos, após as descobertas ultramarinas, as ilhas misteriosas, como as de São Brandão, continuaram a povoar a imaginação dos navegantes que se empenhavam em encontrá-las