Eu passarinho! - SILVANA BITTENCOURT
Nunca soube assoviar. Fracassei fragorosamente em todas as tentativas. Com as mãos queimadas de álcool e o rosto marcado por máscaras, partimos para alguns dias em um sítio, onde os passarinhos acordavam os humanos com uma orquestra de múltiplos tons, de ritmos frenéticos e afinados. Foram dias de realidade paralela, longe de máscaras e perto de assovios enigmáticos, sons espetaculares emitidos por gargantas tão frágeis. Que mistérios guardam aqueles pescocinhos finos por onde ecoam notas complexas e arranjos sofisticados?
Era o auge da pandemia, o mais tenebroso dos pesadelos. As notícias insistiam em chegar carregando o peso da dor de famílias exterminadas, um silêncio incômodo de perguntas nunca respondidas. A orquestra de passarinhos seguia com suas notas musicais, indiferente a tudo, [...]. Como é possível caber em um mesmo planeta, simultaneamente, tamanhas dor e beleza?
O mundo estava em luto e os passarinhos não escondiam sua superioridade diante da fragilidade humana. [...]. Sobrevoavam um planeta em choque, confuso com o trauma da perda, sobressaltado pelo medo e pelo estresse. E assoviavam melodias intrincadas, [...]. Com a estridência de seu canto, alertavam para a vida, como que para espantar as sombras assíduas da morte.
As redes sociais se enchiam de notícias fúnebres que substituíam as cenas de glamour e ostentação de outrora. A felicidade parecia indecorosa em meio ao luto coletivo. Menos para os passarinhos. A eles não havia sido tirado o direito de assoviar e voar, de viajar de um continente a outro, enquanto os homens se trancavam entre paredes. A gaiola agora guardava o engaiolador, [...]. Um dia da caça, outro do caçador.
Eles cantavam e migravam, voando sem pausa por milhares de quilômetros, orientados por uma bússola misteriosa de constelações, mares e montanhas, alimentados por um combustível mágico, de autonomia quase infinita. [...]
Em “As redes sociais se enchiam de notícias fúnebres que substituíam as cenas de glamour e ostentação de outrora.”, a palavra destacada tem sentido semelhante em:
A divertidas
B tristes
C)festivas
D) felizes
Respostas
Resposta:
Letra b.
Explicação:
Basta ler o testo para entender alecrim (coraçãoxinho)
A palavra "fúnebre", destacada no texto emprega um papel e sentido de tristeza do contexto (item B).
De acordo com os elementos da crônica em questão, é possível compreender que o fato que gerou a origem desta história narrada foi a pandemia causada pelo coronavírus no ano de 2020, que levou o narrador para um sítio, isolado da sociedade.
Na crônica em questão, podemos evidenciar que o narrador, ao chegar em um sítio, enalteceu o canto dos passarinhos e afirmou não saber assoviar, como eles.
Os sons e a melodia feita pelos pássaros era algo que sossegavam nem que fosse por um instante o autor da crônica, que estava chocado com tantos horrores acontecendo com as pessoas e as famílias.
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