• Matéria: ENEM
  • Autor: 00001132642279sp
  • Perguntado 3 anos atrás

Assunto: A gravidez na adolescência

Como pode ser entendida as diferentes transformações? ( corporais, psicológicas e socioafetivas )

Respostas

respondido por: liviarufinooliveira
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Resposta:

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A idade das adolescentes variou de 14 a 19 anos, sendo que quatro tinham 17 anos. Quanto ao estado civil, apenas duas adolescentes eram legalmente casadas, quatro estavam em união consensual e quatro eram solteiras. As casadas moravam em casa alugada, paga pelos esposos e longe dos familiares. Aquelas em união consensual e as solteiras moravam com as mães ou sogras e uma delas com o companheiro. Seus companheiros tinham idade superior a 19 anos, sendo que dois não trabalhavam.

Sete adolescentes apontaram a questão financeira como um dos problemas mais preocupantes. A média da renda familiar mensal das entrevistadas não ultrapassou três salários mínimos. Todas as gestantes eram financeiramente dependentes do companheiro ou da mãe.

Em relação à escolaridade, uma das entrevistadas tinha o ensino fundamental, duas o estavam finalizando e sete haviam parado de estudar. Todas ressaltaram a importância dos estudos, desejando continuar quando possível, o que reforça o desejo das adolescentes de buscarem um futuro melhor e mais estável.

Nenhuma das gestantes havia planejado previamente a gravidez, oito delas encararam a gestação como uma casualidade e duas desejavam a gravidez.

O fato de as gestantes serem solteiras e dependentes da família e abandonarem os estudos, de certa forma, contribuiu para agravar a situação socioeconômica dessas gestantes e da família, o que é ratificado por um dos diversos estudos envolvendo adolescentes grávidas que apontam tais fatores como determinantes pauperização nas famílias menos favorecidas.2,17

Confronto com o novo

A maioria das gestantes entrevistadas não planejou a gravidez, denotando-se, por meio das falas, despreparo para exercer sua sexualidade de forma segura, assumir uma gestação, os novos papéis sociais, as responsabilidades, bem como as mudanças decorrentes; desconhecimento e falta de amadurecimento para controlar sua reprodução e garantir a autodeterminação e o exercício dos seus direitos sexuais e reprodutivos, reforçando, dessa forma, a necessidade de uma orientação sexual tanto na família como na escola e um esclarecimento sobre a gravidez e suas repercussões:

Ah, me senti um pouco mal, bem perdida... Brigando bastante em casa com minha mãe, meu pai. Não estava esperando esta notícia. Não estava com ele [namorado]. (Margarida)

Nessa transição abrupta do seu papel de mulher, ainda em formação, para o de mulher-mãe, a adolescente vive uma situação de crise, em muitos casos penosa. A maioria das adolescentes é despreparada física, psicológica, social e economicamente para exercer o novo papel materno, o que compromete as condições para assumir adequadamente a gravidez, agravando-se a situação quando são abandonadas pelo parceiro, muitas vezes, também adolescente.18

Confrontando com o novo e desconhecido, as adolescentes relataram surpresa, alegria, tristeza, indiferença, sofrimento, vergonha, revolta e medo da reação dos outros.

Grande parte das entrevistadas, após a confirmação, escondeu a gravidez dos familiares por vergonha, sentimento de culpa, medo de represálias e julgamentos. Duas delas ocultaram a gestação por medo de decepcionar e perder a confiança da mãe:

Minha mãe descobriu com quase cinco; usava roupa só larga, só que não adianta, né? Aí ela começou a perceber que eu comia demais e enjoava demais até os cinco meses e uma semana mais ou menos. (Tulipa)

Tal quadro culminou com a procura de atenção pré-natal tardiamente, em alguns casos, após 20 semanas de gestação. Cavalcanti et al.19 aponta resultados similares reforçando que, na adolescência, a gestação é quase sempre uma desagradável surpresa, ocultada em razão da vergonha, tendo por consequência a não realização do pré-natal de forma adequada.

A maioria, ao receber a notícia, procurou aceitar o fato de ter um filho, porém algumas tentaram fugir da realidade negando, rejeitando e buscando meios para impedir a continuidade da gestação. O desespero, a angústia e a ansiedade causados pela notícia de uma gravidez levaram, em alguns casos, a adolescente a tomar atitudes drásticas, como tentar o suicídio ou aborto como na fala a seguir:

Queria morrer e queria abortar de qualquer jeito... Não queria de jeito nenhum. Sinceramente eu cheguei a quase a tomar veneno. Eu queria sumir, eu queria morrer. (Tulipa)

O impacto diante da confirmação da gravidez gera para algumas gestantes um sentimento inicial de desespero. Na tentativa de resolver o problema, neste caso a gestação, o aborto acaba surgindo como uma opção, principalmente quando a adolescente não possui uma rede de apoio para lhe dar suporte.20

A decisão de abortar emerge no depoimento de Tulipa, que utiliza uma série de alternativas propostas por pessoas do seu meio para solucionar seus problemas

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