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Atualmente, o conhecimento científico é muito valorizado. Expressões que se referem à ciência, como “cientificamente comprovado”, abundam nos anúncios para conferir autoridade aos produtos. Isso não é de se espantar: o avanço científico e tecnológico das últimas décadas tornou possível que nós, humanos, experimentássemos a nossa existência de uma forma diferente.
Curas para doenças, aparelhos que nos auxiliam na realização de tarefas, viagens espaciais, capacidade de moldar os nossos corpos por intervenção cirúrgica são exemplos de contribuições das ciências com as quais lidamos diariamente. Por essa razão, sempre estaremos prontos a refutar caso alguém disser que a ciência não deve ser tão valorizada.
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Podemos nos perguntar: o que diferencia um saber científico de um saber não científico? Há um método por trás de tudo aquilo que se denomina como ciência e pelo qual conseguimos determinar se algo é ciência ou não? Há uma modalidade única de ciência ou podemos dizer que são ciências?
Todas essas investigações – e outras mais – foram feitas por filósofos desde a Antiguidade, como Aristóteles, e principalmente após o século XVII, tendo grande expressão a partir do século XX com os pensamentos de Carnap, Popper e Quine, por exemplo. Os pensamentos de filósofos em torno de questões relacionadas com a ciência foram denominados como “Filosofia da Ciência”.
As diferenças entre o método científico e o senso comum
O Senso Comum pode ser definido como um conjunto dos conhecimentos que recebemos a partir da transmissão da experiência de uma pessoa ou de um grupo social. As afirmações que são classificadas por senso comum, embora não tenham vínculo necessário com a expressão religiosa, podem ser comparadas com crenças. Muitas dessas crenças, se submetidas a uma análise mais profunda, vão mostrar-se falíveis, mesmo que aceitas e compartilhadas amplamente.
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Enquanto as afirmações do senso comum partem de um conhecimento particular, que muitas vezes não pode ser validado se relacionado com outras pessoas, e estão vinculadas ao ponto de vista individual, a ciência pretende estabelecer um conhecimento geral a partir de experimentos que possam ser comprovados. As conclusões científicas podem ser testadas, pois uma pesquisa deve registrar e tornar públicos os métodos que foram utilizados e os procedimentos realizados a fim de que qualquer pesquisador possa repetir seus passos.
A linguagem das afirmações de senso comum tende a ser subjetiva, e os sentimentos da pessoa que faz alguma afirmação são levados em conta. A linguagem científica, pelo contrário, procura uma linguagem rigorosa e objetiva e independe de preferências individuais.
Paul Feyerabend e a máxima do “tudo vale”
Em virtude da diversidade das áreas das ciências e das pesquisas desenvolvidas, o método científico não é um só, aplicável a todas as áreas como uma chave mágica que abre todas as portas. Por essa razão, a existência de um método científico único que aumentava a confiança do homem em sua capacidade de conhecer o universo passou a ser problematizada. Paul Feyerabend chegou ao extremo de dizer em sua obra principal, Contra o método, publicada em 1975, que “o único princípio que não inibe o progresso é: tudo vale”.*
Isso significa que, para Feyerabend, há uma série de métodos práticos que podemos utilizar a depender do processo de investigação que estejamos desenvolvendo. É a própria natureza da pesquisa que vai criar os métodos a serem empregados. Com isso, ele defendia que cada problema científico deveria ser abordado de acordo com os meios disponíveis e respeitando a liberdade dos pesquisadores. O contrário disso, para ele, seria uma limitação da ciência: “(Para progredir), precisamos fazer um recuo que nos afaste da evidência, reduzir o grau de adequação empírica (conteúdo empírico) de nossas teorias, abandonar o que já conseguimos e começar de novo” (p. 179).
Embora polêmica, a posição de Feyerabend aponta o risco de estagnação da ciência se estabelecer uma metodologia única, desconsiderando os fatores externos e a liberdade do pesquisador de encontrar seus caminhos para a resolução de um problema. A metodologia que pode assegurar a objetividade das conclusões também pode excluir quaisquer procedimentos que sejam diferentes.
Estabelecer uma metodologia única poderia representar um limite para o conhecimento, a partir do qual não seria possível avançar, justamente porque tudo o que poderia ser adequado à metodologia já havia sido feito. O maior problema da teoria de Feyerabend, segundo o filósofo Gilles-Gaston Granger**, é a recusa a critérios de investigação, admitindo a diversidade como um valor em si.