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Sucuri quando bate a boca em focinho de boi, bate definitivo. Perto ou longe do barranco — pouco importa, que corpo de sucuri espicha e encolhe que nem elástico. Uma laçada só, com a ponta do rabo acabada em gancho para arrochar ainda mais o nó cego na hora do repuxo, e o principal está feito.
Escondida no fundo da lagoa, rabo engatado na raiz, a cobra tocaiava o boi carreiro. De fora da água, só a cabeça chata, escura e parada que nem toco de pau boiante e bem disfarçado na touceira de santa-luzia. Não era de agora que vinha vigiando a rês: já percebera o defeito na vista do infeliz — proeza de somenos para uma sucuri que se preza — medira o seu tamanho e se alegrara com a magreza dele. Menos carne, mas, em compensação, menos trabalho.
A sucuri mergulhou macia, tão sonsa que nem meia borbolha se abriu no espelhado azul-escuro do lagoão. Rente ao barro do fundo, veio vindo, veio vindo, sempre do lado cego do boi, até o ponto certo do bote. E adeus boi vermelho-churriado, boi de guia sestroso, carreiro de estimação.
Um olho, mas o suficiente para ver a morte na tromba pendurada nas fuças. Certeza certa do pior dos destinos: acabar em boca de sucuri.
Madrugada, já. Paulo e tio Aurélio ainda conversam, comentando o fim do pobre boi carreiro pegado pela sucuri:
— Se a gente tivesse acudido mais cedo, talvez até que o boi escapasse.
— Escapava não, Paulo. Boi apanhado por sucuri fica inutilizado. Endoidece. Conheci um no pantanal, que os peões conseguiram laçar. A cobra, com o movimento de gente, largou o focinho do pobre e sumiu na lagoa. E depois que soltaram o laço, o boi desembestou por aquele mundo afora, arrasando com o que topava no caminho. Acabou num desbarrancado, pinchado no fundo, em petição de miséria.
— E perderam a sucuri, ainda por cima…
— Pois é. O jeito é mesmo deixar que ela engula a rês. Fica três dias com aquele mundo entalado na barriga, esperando que a carne apodreça, digerindo o boi devagarinho. Aí a gente acaba com a vida dela.
Mário Palmério
O trecho que você acabou de ler foi selecionado de Vila dos Confins de Mário Palmério. Histórias como essa são ouvidas cotidianamente por pessoas mais velhas, sobretudo moradores de zona rural ou mesmo de cidades de interior. "Sucuri come boi, capivara, cachorro e até gente. Quando eu era pequena minha mãe contava que a sucuri enfeitiçou uma mulher que amamentava o filho. A mulher dormiu profundamente e a cobra começou a mamar nela. Para o bebê não chorar de fome, a cobra colocou a outra ponta na boca da criança. O marido ao entrar no quarto e ver a situação, se assustou e puxou a cobra, ela se soltou, mas arrancou o bico do seio da mulher", relata, convicta, a aposentada Catarina Félix.
Eunectes murinus é o nome científico da "atriz" dessas histórias. Encontrada em toda a América, seu habitat são os pântanos, rios e lagoas. A sucuri é cinza escura com grandes pintas pretas nas laterais da cauda. Pode atingir 12 metros e viver 30 anos. Sua reprodução é vivípara, e normalmente nascem entre 5 a 19 filhotes por ninhada, no início da estação chuvosa. Sua gestação ocorre num perído de 225 a 270 dias. A sucuri é essencialmente carnívora, alimenta-se de peixes, rãs, ou caça animais que vão beber à margem dos corpos d'água, como cutias, capivaras, antas, veados e bezerros. Chega a pegar até jacarés, matando-os por asfixia! A cobra pode ser encontrada nas bacias dos principais rios brasileiros, como a do Paraguai, a do Baixo Paraná, incluindo o Pantanal e a do Tietê.
A veterinária Flávia Maria Esteves explica a ação da Sucuri. "Ao contrário de que muitos pensam, a cobra não mata suas vítimas quebrando seus ossos. Os ossos, uma vez quebrados, rasgariam todo o trato digestório da cobra. As 'vítimas' são mortas por asfixia. A sucuri não possui veneno e mata suas presas enrolando-se no seu corpo até tirar-lhes todo o ar."
Apesar de não ser um animal agressivo, a população de sucuris vem diminuindo a cada dia, devido à destruição de seu habitat, da poluição dos mananciais e da caça indiscriminada feita pelo seu maior predador: o
Explicação:
espero te ajudado deu muito trabalho