Uma professora de segundo ano que trabalha com alfabetização me contou que, na sala
em que ela dá aulas, há alguns alunos que não querem, de maneira alguma, escrever. Eles
dizem que dá muito trabalho, que cansa as mãos etc.
Eles dão todo tipo de justificativa para evitar o exercício da escrita. E não se trata de
crianças que ainda não alcançaram o domínio da leitura. Apesar de não serem leitores fluentes,
eles já conseguem ler e entender o sentido do que leem. E gostam de ler. Mas escrever...
A professora, corajosa e batalhadora, não desiste: cria todo o tipo de estratégia para
fazer com que esse grupo de alunos enfrente o trabalho da escrita. Frente à insistência da
professora, um aluno a desafiou. Crianças dessa idade são sagazes, criativas, audazes e
absolutamente antenadas com o contexto do mundo atual, principalmente o tecnológico, que
usam com intimidade. O garoto, usando a linguagem própria de crianças, disse que aprender a
escrever era um trabalho desnecessário, porque ao apertar a tecla do computador ou ao tocar a
tela do tablet ele escrevia do mesmo jeito e isso não fazia a mão doer.
"Professora, se eu só vou escrever em computador e em tablet, por que tenho que
aprender a fazer essas letras desenhadas?". E você pensa, caro leitor, que o menino parou aí?
Não! Ele prosseguiu. "E no computador tem corretor de palavras, então eu nem preciso escrever
tudo certinho porque ele corrige quando eu escrevo errado."
Foram essas perguntas do aluno que fizeram a professora me procurar. Ela está em
busca de argumentos para convencer os alunos da importância da escrita. O problema é que ela
não tem uma boa resposta.
Isso me lembrou uma informação que foi notícia no ano passado e que rendeu muitas
análises e discussões, pelo menos no meio acadêmico. Nos Estados Unidos, alguns estados já
aboliram a obrigatoriedade do ensino da letra cursiva no ensino fundamental. E tudo indica que
o próximo passo será banir de vez a prática.
A escrita é um meio de comunicação. Por meio dela expressamos nossos pensamentos
e nos comunicamos com eles. Esse é um tipo de linguagem que coloca as pessoas em contato
umas com as outras: pode ser um recado, a manifestação de um sentimento, pode ser muita
coisa.
Mas, se a escrita pode ser digital, por que é importante a escrita à mão? Em primeiro
lugar, porque a substituição de uma pela outra empobrece o mundo e a variedade das
linguagens. Se podemos ter os dois tipos, por que vamos escolher ficar apenas com um deles?
A existência da arte digital, um tipo de linguagem, não nos faz pensar na substituição dos
quadros, não é verdade? Ficamos com as duas formas de expressão.
Em segundo lugar, porque a escrita digital restringe sobremaneira as possibilidades de
comunicação com as pessoas. Quantas delas há no mundo, em nosso país, em nossa cidade,
em nosso grupo de convivência, que não têm acesso a essa tecnologia?
A linguagem escrita e seu aprendizado são partes integrantes e importantes do exercício
da cidadania. Não se trata apenas, portanto, da aprendizagem de um código. É bem mais do que
isso.
Nossos novos alunos terão menos dificuldades para se esforçar na aprendizagem da
escrita se perceberem que nós temos convicção da importância desse tipo de comunicação.
(Rosely Sayão. Folha de S.Paulo, 29 maio 2012.)
1- Segundo a autora, que argumentos alguns alunos usam para justificar por que não
querem escrever à mão?
Respostas
respondido por:
1
Resposta:
Argumentos do tipo: "Professora, se eu só vou escrever em computador e em tablet, por que tenho que aprender a fazer essas letras desenhadas? "
Explicação:
Eles insinuam que a escrita à mão seria algo inútil em meio a tanta tecnologia onde hoje, ao digitarmos, não perdemos tempo "desenhando" a letra, e que caso a palavra esteja errada, existe mecanismos de autocorreção que ajudam o processo de escrita da pessoa que está utilizando o teclado.
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Que argumento ela usa para justificar sua opinião?