3) Budapeste
Fui dar em Budapeste graças a um pouso imprevisto, quando voava de Istambul a Frankfurt, com conexão para o Rio. A companhia ofereceu pernoite num hotel do aeroporto, e só de manhã nos informariam que o problema técnico, responsável por aquela escala, fora na verdade uma denúncia anônima de bomba a bordo. No entanto, espiando por alto o telejornal da meia-noite, eu já me intrigara ao reconhecer o avião da companhia alemã parado na pista do aeroporto local. Aumentei o volume, mas a locução era em húngaro, única língua do mundo que, segundo as más línguas, o diabo respeita. Apaguei a tevê, no Rio eram sete da noite, boa hora para telefonar para casa; atendeu a secretária eletrônica, não deixei recado, nem faria sentido dizer: oi, querida, sou eu, estou em Budapeste, deu um bode no avião, um beijo. Eu deveria estar com sono, mas não estava, então enchi a banheira, espalhei uns sais de banho na água morna e me distraí um tempo amontoando espumas. Estava nisso quando, zil, tocaram a campainha, eu ainda me lembrava que campainha em turco é zil. Enrolado na toalha, atendi à porta e topei um velho com uniforme do hotel, uma gilete descartável na mão. Tinha errado de porta, e ao me ver emitiu um ô gutural, como o de um surdo-mudo. Voltei ao banho, depois achei esquisito hotel de luxo empregar um surdo-mudo como mensageiro. Mas fiquei com o zil na cabeça, é uma boa palavra, zil, muito melhor que campainha. Eu logo a esqueceria [...].
BUARQUE, Chico. Budapeste. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 6-7.
Sobre o uso de “lembrar” no trecho “eu ainda me lembrava que campainha em turco é zil”, observa-se
A
a ausência de preposição, pois “lembrar” não é um verbo pronominal, exigindo somente objeto direto.
B
a intransitividade do verbo, cujo sentido remete ao ato de lembrar, não exigindo complemento.
C
a presença do sentido de reciprocidade, ou seja, o narrador lembra-se a si mesmo.
D
um complemento pronominal, desempenhando a função de objeto indireto.
E
um desvio da norma-padrão, já que o correto seria “eu ainda me lembrava de que” ou "eu ainda lembrava que".
4) Ao ouvir a campainha, o narrador afirma: “Enrolado na toalha, atendi à porta”. Nessa frase, a expressão "à porta" é, sintaticamente,
A
adjunto adnominal.
B
complemento nominal.
C
objeto direto.
D
objeto indireto.
E
predicativo do sujeito.
5) Sobre a palavra “zil” que em turco significa “campainha”, o narrador constata que “logo a esqueceria”. O verbo “esquecer”, nesse caso,
A
é intransitivo, pois não apresenta complemento.
B
rege objeto direto e indireto, pois ambos estão presentes na oração.
C
é transitivo direto e indireto, pois se trata de verbo pronominal.
D
é transitivo direto e tem por objeto o pronome “a”.
E
é transitivo indireto, pois há na sentença a preposição “a”.
Do título
6) Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
— Continue, disse eu acordando.
— Já acabei, murmurou ele.
— São muito bonitos.
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: "Dom Casmurro, domingo vou jantar com você."—"Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renania; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo."—"Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça."
ASSIS, Machado de. Do título. In: ______. Dom Casmurro. São Paulo: Ática, 2000. p. 13.
Observando o trecho "dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça", conclui-se que o verbo "dar" é
A
de ligação.
B
intransitivo.
C
transitivo direto.
D
transitivo direto e indireto.
E
transitivo indireto.
Respostas
respondido por:
4
Resposta:Tecnicamente, Budapeste é um romance do duplo, tema clássico na literatura ocidental desde que a identidade do sujeito tornou-se problema e enigma. A questão desfila nas narrativas do século XIX, através dos motivos da sombra, do sósia, da máscara, do espelho, e evolui para a indagação dessa esfinge impenetrável e desencantada que é a própria pessoa como persona e ninguém.
Explicação:
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