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comente possíveis motivos da permanência do cenário de instabilidade e pobreza no Haiti após o terremoto de 2010.
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PORTO PRÍNCIPE, HAITI Diante da Catedral de Notre-Dame em Porto Príncipe, devastada pelo terremoto, Ketly Paul observa as ruínas onde antes ficavam os vitrais e os bancos da catedral.
O terremoto devastador de 12 de janeiro de 2010 no Haiti ceifou cerca de 316 mil vidas, deixou 1,5 milhão de feridos e outros 1,5 milhão de desabrigados quando atingiu uma região a cerca de 24 quilômetros a sudoeste da capital.
Mas Paul, como tantos haitianos, acreditava que a ajuda humanitária e os US$ 13,3 bilhões da comunidade internacional reconstruiriam a catedral, garantiriam sua moradia após o desmoronamento de sua casa e tornariam a vida melhor no instável país.
Em vez disso, dez anos depois, o Haiti ainda está longe de uma recuperação e está mergulhado em conflitos políticos que levaram as empresas à falência, deterioraram a economia e desanimaram os doadores estrangeiros que antes corriam para ajudar na reconstrução.
Embora tenham desaparecido as cidades de barracos improvisados e escombros que antes cobriam Porto Príncipe, algumas se transformaram em assentamentos permanentes sem eletricidade, saneamento ou segurança para mais de 32 mil sobreviventes do terremoto.
Duas das estruturas mais emblemáticas do país — a catedral e o palácio presidencial — ainda não foram reconstruídas. E seis anos após o início da construção de um novo hospital público de US$ 100 milhões, prometido pelos Estados Unidos e pela França, o complexo continua uma carcaça vazia, suas obras foram temporariamente interrompidas devido a uma disputa por dinheiro.
Paul, mãe de cinco filhos, com 47 anos, ainda vive debaixo de uma lona, a poucos passos da Notre-Dame. Poucas casas permanentes foram construídas e ainda persiste o debate sobre quanto do auxílio chegou — e para onde foi destinado. Em vez do futuro brilhante esperado por muitos após o terremoto de magnitude 7.0, o Haiti enfrenta agora uma de suas piores crises econômicas, à medida que intensifica o descontentamento popular generalizado em toda a nação empobrecida, e os haitianos perdem cada vez mais a esperança nos líderes políticos.
Antes do terremoto, a situação estava melhorando no Haiti. A economia estava melhor, investidores estrangeiros cogitavam oportunidades de investimento e os próprios haitianos estavam esperançosos em relação ao futuro.
Mas o caos político piorou após o desastre e as duas eleições presidenciais e legislativas seguintes. Esse caos acabou prejudicando o ritmo de recuperação. Protestos públicos contra a corrupção resultaram em uma manifestação radical de descontentamento que, por três vezes em 2019, levou a uma paralisação completa do país.
Uma crise econômica — causada pela desvalorização da moeda nacional, pela escassez de dólares norte-americanos em razão da redução de ajuda externa e da saída das tropas de paz da ONU após 15 anos, bem como pela má administração do governo — provocaram a falta de combustível, a disparada da inflação e a intensificação da pobreza. Manifestantes contrários à corrupção fecharam escolas e empresas em 2019 e bloquearam as principais vias por meses.
Com o desmoronamento de mais de 100 mil construções em 35 segundos em decorrência do terremoto e restando apenas um ministério do governo, o Haiti teve um difícil caminho à frente. As inúmeras crises, além da chamada fadiga de doadores do Haiti, tornaram o progresso ainda mais difícil.
“Como nação, como estado, fracassamos”, afirmou Leslie Voltaire, urbanista e arquiteta que esteve entre os envolvidos nos primeiros dias da recuperação.
Os fracassos são notados em toda capital de Porto Príncipe, onde até mesmo os sucessos apresentam entraves.
Após o terremoto, foram construídos vários novos hotéis à prova de terremoto, mesmo sem a aprovação de um código de construção nacional pelo parlamento do país. Contudo, com a paralisação do país pela terceira vez em meses devido à crise política do ano passado, ao menos um desses hotéis, o Best Western, anunciou o seu fechamento ao passo que outros demitiram funcionários sem alarde.
“Não há presidente, não há país, não há estado”, afirmou Ketly Paul.
O terremoto matou os principais intelectuais, artistas, feministas e outros renomados incentivadores de mudanças da sociedade haitiana, e a partida deles é lamentada até hoje em vista das dificuldades atuais e futuras enfrentadas pelo país.