Vem um Corregedor carregado de feitos1, e chegando à barca do Inferno, com sua vara na mão, diz:
CORREGEDOR
Onde vai o batel2?
DIABO
No inferno vos poeremos3.
CORREGEDOR
Nom4 é de regulae juris5, não.
[...]
Oh! renego da viagem
e de quem me há de levar!
Há aqui meirinho6 do mar?
DIABO
Não há cá tal costumagem.
CORREGEDOR
Nom entendo esta barcagem
nem hoc non potest esse!7
Notas
1 - Feitos: autos ou processos judiciais.
2 - Batel: barca.
3 - Poeremos: forma antiga de "poremos".
4 - Nom: forma antiga de "não".
5 - Regulae juris: expressão latina que pode ser traduzida como "regra jurídica".
6 - Meirinho: oficial de justiça.
7 - Hoc non potest esse: expressão latina que pode ser traduzida como "Isto não pode ser".
VICENTE, G. Auto da barca do inferno. São Paulo: Ateliê Editorial, 1996.
No trecho de Auto da barca do inferno, de Gil Vicente, a variante linguística com expressões em latim tem como função
a) associar marca de poeticidade criativa à índole do corregedor.
b) caracterizar personagem graças à linguagem de sua profissão.
c) garantir tratamento sagrado à representante da classe alta.
d) atribuir veracidade científica aos argumentos do magistrado.
e) demonstrar inadequação temporal nas atitudes do condenado.
Respostas
respondido por:
2
O dramaturgo português Gil Vicente utilizou expressões em latim na peça "O Auto da barca do inferno" para atribuir veracidade científica nos seus argumentos. Portanto, a alternativa D está correta.
O latim (ou o Neolatim) é uma característica dada pelo cientistas nas suas nomenclaturas de animais, espécies ou família de outros seres que são orgânicos e que possuem vida.
Trata-se de uma linguagem para diferenciar e relacionar as famílias dos seres vivos, assim como os seus reinos na biologia.
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