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Existem algumas datas que permanecem na História. Algumas são lembradas apenas regionalmente, outras mundialmente. Entre nós brasileiros, por exemplo, sabemos que 1888 – ano da abolição da escravatura – é importante para a história do país.
Um dos anos mais conhecidos e discutidos na história do século XX é 1929. Tal data foi marcada pela Quebra da Bolsa de Nova Iorque. A consequência foi a “Grande Depressão”, uma crise econômica sem precedentes que afetou o mundo inteiro; daí a data ser tão significativa.
A crise afetou diretamente vários países, os Estados Unidos mantinham relações comerciais em todos os continentes e eram, àquela altura, o maior comprador de café do Brasil, o maior produtor do grão. O resultado imediato foi a diminuição da demanda de café pelos Estados Unidos e a queda brusca do preço do produto. Para que o preço não caísse mais ainda o governo brasileiro comprou toneladas de café e as queimou. Um fato presente na “memória coletiva” do brasileiro até hoje.
A produção de café no Brasil estava fortemente vinculada à mão de obra imigrante. A ideia desse artigo é mostrar alguns dados relacionados à imigração e à movimentação na Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo em 1929 e 1930 para saber quais as consequências da crise mencionada sob esse aspecto (vale recordar que a Quebra da Bolsa de Nova Iorque ocorre no final de 1929, em outubro).
Em 1929 entraram no estado de São Paulo 103.480 (i) migrantes. A maioria brasileiros (50.218) seguidos por portugueses (16.366), japoneses (16.050) e lituanos (4.466) principalmente. Tal número era, até então, o quarto maior de entradas de (i) migrantes já registrado na história do Brasil; atrás apenas de 1895 (139.998), 1913 (119.758) e 1891 (108.736). Mesmo depois de outubro de 1929 os registros do porto de Santos marcam números elevados. E dezembro de 1929 mais de 6.400 imigrantes desembarcaram em Santos, o maior número comparado a todos os meses do ano, sendo mais de 40 mil agricultores. A Hospedaria de Imigrantes de São Paulo alojou e 1929 mais de 111 mil pessoas. Um recorde no século XX; antes o mais próximo disso, no século, ocorreu em 1913 (por volta de 83 mil). Falamos em “pessoas” e não necessariamente “(i)migrantes” porque, nessa época, boa parte dos alojados na Hospedaria eram pessoas que já estavam estabelecidas em São Paulo, porém procurando novas colocações na lavoura. Outras ocasiões para recepção na Hospedaria eram para os saídos de hospitais, “por ordem superior”, pessoas que iam procurar bagagens e que aguardavam repatriação.
Já em 1930, os Relatórios da Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas trazem a informação de 39.644 (i) migrantes entrados no estado de São Paulo. Um número bastante inferior às entradas de 1929. Eram provenientes, em sua maioria, do Japão, Brasil, Portugal e Itália (nessa ordem). Além disso as saídas por Santos batem recordes em 1930, mais de 32 mil (i) migrantes saíram do Brasil nesse período.
Japonesas na hospedaria. Acervo Museu da Imigração/APESP
A Hospedaria, pelo contrário, não sofre muito na movimentação de pessoas, comparado à 1929. Novamente, mais de 100 mil pessoas passam pela hospedaria (originários de mais de 50 países diferentes), mais precisamente 102.753 (maioria de brasileiros, lituanos e espanhóis, nessa ordem). Mais de 101 mil encaminhados à lavoura. Desses, mais de 78 mil já residiam na Capital, ou seja, a movimentação na Hospedaria tinha uma dinâmica própria nessa época, dependia da entrada de (i) migrantes no país claro, mas esse não era o único fator. Apesar da crise operários da capital e (i) migrantes recém-chegados continuaram sendo encaminhados para a lavoura.
Apesar de parecer que a crise de 1929 significaria uma redução drástica e imediata no movimento da Hospedaria dos Imigrantes, vemos que isso não foi uma realidade. A hospedaria já possuía outra dinâmica de recepção, como dito anteriormente. A chegada de brasileiros de outros estados às terras paulista se acentua, um fator crescente a partir da década de 1930, as chegadas de estrangeiros diminuem, porém, a população da hospedaria contínua grande. Não era tão somente um local de hospedagem mais, era um local em que as pessoas que já viviam no Brasil iam procurar novos trabalhos.