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Resposta:
Por que o Sol e a Lua foram morar no céu
Há muito tempo, o sol e a água eram grandes amigos e viviam juntos na Terra. Habitualmente o sol visitava a água, mas esta jamais lhe retribuía a gentileza. Por fim, o sol quis saber qual o motivo do seu desinteresse e a água respondeu que a casa do sol não era grande o bastante para que nela coubessem todos com que vivia e, se aparecesse por lá, acabaria por despejá-lo de sua própria casa.
— Caso você queira que eu realmente o visite, terá que construir uma casa bem maior do que a que tem no momento, mas desde já fique avisado de que terá que ser algo realmente muito grande, pois o meu povo é bem numeroso e ocupa bastante espaço.
O sol garantiu-lhe que poderia visitá-lo sem susto, pois trataria de tomar todas as providências necessárias para tornar o encontro agradável para ela e para todos que o acompanhassem. Chegando em casa, o sol contou à lua, sua esposa, tudo o que a água lhe pedira e ambos se dedicaram com muito esforço à construção de uma casa enorme que comportasse sua visita.
Quando tudo estava pronto, convidaram a água para visitá-los.
Chegando, a água ainda foi amável e perguntou:
— Vocês têm certeza de que realmente podemos entrar?
— Claro, amiga água— respondeu o sol.
A água foi entrando, entrando e entrando, acompanhada de todos os peixes e mais uma quantidade absurda e indescritivelmente grande, incalculável mesmo, de criaturas aquáticas. Em pouco tempo a água já se encontrava nos joelhos.
— Vocês estão certos de que todos podem entrar? — insistiu preocupada.
— Por favor, amiga água — insistiu a lua.
Diante da insistência de seus anfitriões, a água continuou a despejar sua gente para dentro da casa do sol. A preocupação voltou quando ela atingiu a altura de um homem.
— Ainda posso entrar? — insistiu — Olha que está ficando cheio demais...
— Vai entrando, minha amiga, vai entrando — o sol realmente estava muito feliz com a sua visita.
A água continuou entrando e jorrando em todas as direções e, quando deram pela coisa, o sol e a lua viram-se forçados a subir para o alto do telhado.
— Acho que vou parar... —disse a água, receosa.
— O que é isso, minha água? — espantou-se o sol, mais do que educado, sem esconder uma certa preocupação.
A água continuou jorrando, empurrando seu povo para dentro, ocupando todos os cômodos da ampla casa, inundando tudo e, por fim, fazendo com que o sol e a lua, sem ter mais pra onde ir ou se refugiar, subissem para o céu, onde estão até hoje.
Júlio Emílio Braz, Sukulume e outros contos africanos (2008)