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Resposta:
No decorrer de um dia a pessoa sente fome, sono e maior ou menor disposição para as
atividades em determinados horários. Esses horários se repetem todos os dias porque respondem ao
nosso relógio biológico que coordena nossos sistemas fisiológicos e comportamento e,
preferencialmente, deve estar sincronizado com uma rotina.
Quando alteramos nossa rotina (vamos dormir mais tarde ou fazemos uma refeição fora do
horário, por exemplo), os sistemas fisiológicos têm de se adaptar e podemos sentir algum
desconforto. Mas nada que cause problemas de saúde.
O desconforto é mais perceptível e provoca alterações em nossa disposição, humor e até
capacidade de trabalho quando a alteração da rotina é muito significativa. O melhor exemplo é do
trabalhador que muda de turno, tendo que trabalhar algumas semanas no horário noturno e depois
voltar ao turno diurno. Outro exemplo é o que acontece com todos nós quando entra em vigor (e
também quando deixa de vigorar) o horário de verão. Adiantar em uma hora o relógio faz com que
tenhamos que levantar da cama e fazer as refeições uma hora mais cedo, ou seja, quando os
sistemas fisiológicos ainda não estão preparados para tais processos. Recentemente, num estudo
publicado na prestigiosa revista científica Science (Lamia e col. vol. 326, num. 5951, p. 437-440),
foi identificada a enzima, denominada com AMPK, que é responsável por “avisar” ao relógio
biológico quando nutrientes estão sendo consumidos, influenciando a expressão de genes, a
produção de proteínas e o próprio ajuste do relógio biológico, quando da mudança de horários das
refeições, por exemplo.
Cada pessoa tem seu próprio relógio e horários biológicos. Hipoteticamente, se as pessoas
ficassem isoladas umas das outras, cada uma teria seu próprio horário para dormir, para as refeições
e para maior capacidade de trabalho, com pequenas diferenças. O principal “arrastador”, ou fator de
ajuste do relógio biológico seria o ciclo dia-noite e a própria rotina da pessoa. Porém, na vida em
sociedade, as convenções sociais (horário das refeições, por exemplo) e determinantes da atividade
profissional (trabalhar das 8h00 as 18h00 ou das 14h00 as 22h00, por exemplo) são também
arrastadores que “configuram” nosso relógio biológico.
Mesmo com as convenções sociais, existem diferenças entre as pessoas e isso faz que seja
muito difícil para algumas se adaptarem a determinados horários de trabalho ou de prática de
exercícios, por exemplo. Algumas poucas pessoas são classificadas como matutinas porque
levantam cedo, dormem cedo, fazem as refeições cedo e têm mais disposição para o trabalho ou
prática de exercícios pela manhã. Outras poucas pessoas são classificadas como vespertinas porque
naturalmente levantam mais tarde, dormem mais tarde, fazem refeições mais tarde (em comparação
aos padrões) e rendem mais no trabalho à tarde e à noite. Porém, a maior proporção das pessoas é
classificada como indiferentes, para as quais levantar um pouco mais cedo ou fazer um trabalho a
noite, por exemplo, não causa grandes transtornos e não atrapalha o rendimento.
Para as pessoas indiferentes, mudar a rotina para se levantar um pouco mais cedo ou
trabalhar até mais tarde à noite é apenas uma questão de adaptação, mantendo os horários durante
uma ou duas semanas. Algo semelhante acontece com as pessoas quando da mudança do horário de
verão (início ou fim). Há uma dessincronização entre o relógio biológico e o relógio temporal.
Como temos que seguir o relógio temporal, nossos ritmos devem mudar. O tempo para adaptação
do relógio biológico é de quatro dias a pouco mais de uma semana, para a maioria das pessoas.
Durante esse período, as pessoas sentem sono, menos disposição para o trabalho e exercício pela
manhã, falta de fome no horário das refeições e até mal estar. Mas é apenas uma questão de
adaptação.
Para a prática de exercícios, independentemente de mudança do horário de verão, sempre
deve haver uma adaptação. Quando a pessoa começa a prática, além da adaptação dos músculos, os
sistemas fisiológicos também se ajustam. Depois de algumas semanas de rotina, a sensação
provocada pelo exercício é apenas o cansaço decorrente do esforço. Se a prática do exercício muda
de horário (do final da tarde para a manhã, por exemplo), apesar da adaptação anterior dos músculos
e sistemas, o exercício torna-se um pouco mais dificultoso na primeira e segunda semanas, até que
os sistemas atinjam sua maior capacidade de trabalho no novo horário.
Vale ressaltar que algumas pessoas nunca se adaptam à prática de exercícios bem de
manhã ou no início da noite, justamente porque são vespertinas ou matutinas.