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Resposta:
4.
Apropriação e ressignificação
4.1.
No princípio era o verbo. E ele foi apropriado
Em seu sentido cotidiano, como doxa, apropriar-se significa o ato pelo
qual o sujeito toma posse de algo que não lhe pertence. Sendo assim, é natural que
o primeiro impulso seja o de associar a apropriação à ideia de usurpação e de
furto. Mas o fato é que, se compramos ou roubamos, tanto faz, estamos nos
apropriando de uma mercadoria alheia. Ler uma obra clássica ou uma bula de
remédio, ir ao cinema, escutar uma música ou assistir a uma partida de futebol são
formas de apropriação de conhecimentos e de ideias. No dia-a-dia absorvemos
tendências e modismos ao nosso comportamento.
A arte contemporânea ampliou o sentido da apropriação, assim como
historicamente tudo indica que ela sempre se nutriu de outras criações. Um bom
exemplo é a analise que o escritor argentino Jorge Luiz Borges (2011) faz do
título da obra As mil e uma noites. Para a sorte dos leitores, diz Borges, ao longo
de suas diversas reinterpretações, As mil e uma noites acabaram ganhando uma
noite a mais, o “e uma noite”. Das possíveis origens desses contos, uma delas
seria a obra persa Mil noites. O acréscimo, acredita Borges, deu o tom exato da
natureza infinita das narrativas de Sherazade, uma obra sem origem fixa e que
continua a ser um eterno recomeçar de versões reduzidas, ampliadas e traduções
que estão sempre a atualizar os contos das mil e uma noites que nunca chegam ao
fim. Uma narrativa rizomática, portanto, uma cadeia de ramos que se multiplicam,
não interessando a raiz, apenas o que dos brotos, sempre muito ricos, é
desdobrado. Como lembrou Walter Benjamin (2012:10):
Em principio a obra de arte sempre foi suscetível de reprodução. O que os seres
humanos fazem pode ser imitado por outros. Os estudantes copiavam obras
como forma de se exercitar, os mestres as reproduziam para divulgá-las, e
finalmente outras pessoas as copiavam para ganhar com isso.
A apropriação é o primeiro gesto do realizador que se dedica ao found
footage. Estamos falando de realizar uma seleção entre fragmentos de imagens
prontas e modificá-las de acordo com uma intenção específica, uma ideia diz
Explicação: