uma apreciação crítica do filme "O círculo"
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Há em O Círculo boas ideias suficientes para preencher uma temporada completa de Black Mirror, a cultuada série britânica que examina as consequências das novas tecnologias. Como longa-metragem, porém, a adaptação do livro de Dave Eggers (que também assina o roteiro) torna-se uma experiência frustrante, sem foco na hora de transformar ficção especulativa em obra cinematográfica.
Com um elenco mais do que qualificado em mãos - Emma Watson, Tom Hanks, Karen Gillan, John Boyega, Ellar Coltrane, Patton Oswalt -, o longa trabalha superficialmente uma trama complexa em uma teia de subtramas que jamais são desenvolvidas por completo. A jovem Mae (Watson) acredita que todos os seus problemas acabaram quando consegue um emprego no Círculo, uma gigante tecnológica do Vale do Silício à la Google e Facebook. Quando a empresa ganha contornos de seita, porém, a inabilidade do filme de dar consistência à protagonista torna tudo ao seu redor descartável.
Os personagens são tratados como meros acessórios para apresentação de novos conceitos sobre privacidade e a influência tecnológica em questões práticas como a transparência política e o registro de voto. “Não mentimos quando estamos sendo observados”, conclui o longa, arquitetando um 1984 esclarecido. O “Grande Irmão” é a solução para evitar mentiras políticas, traições e crimes, mesmo que mate algumas pessoas pelo caminho.
Apática, Mae vai aprendendo na pele os perigos do controle de informações do Círculo, vê seus amigos sofrendo pelas ações da empresa, mas não apresenta uma gota de revolta ou questionamento. E não há nada na construção da personagem que justifique a sua evolução de infeliz em um subemprego a porta-voz da transparência absoluta. O filme quer tratá-la como heroína, mas não constrói uma.
Infeliz na construção da trama e no uso dos seus personagens, O Círculo também peca pela falta de inventividade visual. Não há nada na direção de James Ponsoldt que transmita as intenções de modernidade do roteiro. Tudo parece aquém, não além. É aí que Black Mirror entra mais uma vez na conta, com suas tramas resolvidas e sua estética que se reinventa a cada episódio, o que torna o filme ainda mais descartável. Eggers escolheu o formato errado para dar vida às suas ideias.
MT bom o círculo
mas faltou o triângulo