• Matéria: Artes
  • Autor: vtnc86
  • Perguntado 3 anos atrás

o significado da expressão "espírito da floresta" para os indígenas que vivem na Amazônia.​

Respostas

respondido por: viinyl90
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Resposta:

Xapiripë para os Yanomanis

Explicação:

Os xapiripë (ancestrais animais ou espíritos xamânicos que interagem com os xamãs de seu povo).

Os conceitos amazônicos sobre os “espíritos” não apontam para uma classe ou gênero de seres, mas para uma síntese disjuntiva entre o humano e o não-humano.

A palavra designa o utupë, imagem, princípio vital, interioridade verdadeira ou essência (Kopenawa & Albert 2003: 72, n. 28) dos animais e outros seres da flresta, e ao mesmo tempo as imagens imortais de uma primeira humanidade arcaica, composta de Yanomami com nomes animais que se transformaram nos animais da atualidade.

Mas o termo xapiripë se refere também aos xamãs humanos, e a expressão “tornar-se xamã” é sinônima de “tornar-se espírito”, xapiri-pru.

Os xamãs se concebem como de mesma natureza que os espíritos auxiliares que eles trazem à terra em seu transe alucinógeno. O conceito de xapiripë assinala portanto uma interferência complexa, uma distribuição cruzada da identidade e da diferença entre as dimensões da “animalidade” (yaro pë) e da “humanidade” (yanomae thëpë). De um lado, os animais possuem uma essência invisível distinta de suas formas visíveis: os xapiripë são os “verdadeiros animais” – mas são humanóides. Isto é, os verdadeiros animais não se parecem demasiado com os animais que os xapiripë, literalmente, imaginam. De outro lado, os xamãs se distinguem dos demais humanos por serem “espíritos”, e mais, “pais” dos espíritos (que, por sua vez, são as imagens dos “pais dos animais”). O conceito de xapiripë, menos ou antes que designando uma classe de seres distintos, fala assim de uma região ou momento de indiscernibilidade entre o humano e o não-humano (principal mas não exclusivamente os “animais”, noção que discutiremos mais adiante): ele fala de uma humanidade molecular de fundo, oculta por formas molares não-humanas, e fala dos múltiplos afetos não-humanos que devem ser captados pelos humanos por intermédio dos xamãs, pois é nisto que consiste o trabalho do sentido; literalmente, “são as palavras dos xapiripë que aumentam nossos pensamentos”.

Texto parcialmente recortado do trabalho:

A Floresta de Cristal: notas sobre a ontologia dos espíritos amazônicos

Autoria:

EDUARDO VIVEIROS DE CASTRO

O conhecimento é complexo e averso ao nosso. Por isso vale a leitura do texto na íntegra e várias profundas reflexões.

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