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funerário no país. No Equador, o mesmo problema foi enfrentado: em abril foram recolhidos de casas e ruas mais de 700 corpos de vítimas da doença. A pandemia causou, inclusive, o primeiro adiamento da história das Olimpíadas, evento que só havia sido cancelado por duas vezes em toda a sua história, na ocasião das duas guerras mundiais. O Brasil foi o primeiro país da América Latina a registrar um caso de coronavírus, no dia 25 de fevereiro. A vítima era de São Paulo. A primeira morte veio em 17 de março, quando o país já registrava mais de 200 casos. A ascensão do vírus no Brasil foi rápida. Um mês após o primeiro registro, o Ministério da Saúde mostrava 2.915 infectados pela doença. No começo de abril, o número já era maior que 7 mil. No fim de maio, já eram mais de 20 mil mortos. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, declarou considerar o Brasil uma ameaça para o resto do continente. No Ceará, os três primeiros casos de infectados foram confirmados pela Secretaria da Saúde do Estado em 15 de março. No dia 25 do mesmo mês, o número havia aumentado para 235. Fortaleza foi o epicentro da doença no Estado. Até 14 de outubro, os números se mostravam, aproximadamente, da seguinte forma: 38,4 milhões casos confirmados e 1,09 mil mortes no mundo, sendo 5,14 milhões de casos e 151.700 mortes no Brasil. Na mesma data, o Ceará somava 261.200 casos e 9.100 mortes, sendo 51.700 casos e 3.800 mortes somente em Fortaleza. 10A título de comparação, o número de óbitos do Ceará (9.100) consegue ser maior do que o total de mortes na China (4.739), país originário do vírus e com população de mais de 1 bilhão de pessoas. O Brasil é o segundo país com maior número de mortes, atrás somente dos Estados Unidos (216.632). Os números estarrecedores foram consequência da ausência de uma política governamental adequada de prevenção à pandemia. Desde o começo dos eventos, a posição adotada pelo presidente Jair Bolsonaro foi de apontar a doença como algo que "não é isso tudo". Ele afirmou não haver motivo para pânico, comparou a questão a uma "fantasia" e acusou de estarem superdimensionando o problema. Chegando a afirmar que a Covid-19 seria apenas uma "gripezinha", Bolsonaro quebrou o isolamento social diversas vezes, participando de manifestação e causando aglomerações em ruas e estabelecimentos, comumente sem máscara e não hesitando em ter contato próximo com os apoiadores. Quando questionado pela imprensa sobre as mortes no país, frases como "eu não sou coveiro, tá certo?" e "e daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?" foram utilizadas como respostas por Bolsonaro. Além disso, por duas vezes o ministro da Saúde teve que ser substituído. Em 16 de abril, Luiz Henrique Mandetta foi demitido após um período de desentendimento com o presidente sobre o combate à pandemia. O ex-ministro viu sua popularidade crescer após adotar uma postura pró-isolamento. Já em 15 de maio foi a vez de Nelson Teich pedir demissão do cargo, após divergência com Bolsonaro sobre o uso da cloroquina no tratamento da 11doença, medicamento apoiado pelo presidente e sem comprovação científica de resultados positivos na luta contra o coronavírus. A instabilidade política e a negligência governamental custaram a vida de milhares de pessoas. Mesmo debaixo do mesmo guarda-chuva da pandemia, cada brasileiro encarou esse momento sob um ponto de vista específico. É notório que fatores como nível socioeconômico, gênero e raça segmentam o indivíduo na sociedade e influenciam em toda a sua experiência dentro do sistema. Com a pandemia não foi diferente. Em cerca de 30 mil casos de notificações de Covid-19, disponibilizados pelo Ministério da Saúde até 18 de maio, 55% de pretos e pardos morreram, enquanto o mesmo índice entre pessoas brancas foi de 38%. Além disso, pretos e pardos sem escolaridade tiveram 80,35% de taxas de morte, ao passo que brancos com nível superior tiveram 19,65%. As informações são de um estudo do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde, grupo da PUC-Rio. Os motivos para essa realidade envolvem o fato de que pessoas negras, em geral, devido aos resquícios da escravidão, encontram-se nas regiões mais marginalizadas das cidades. Assim, moradores de periferia sofrem com baixa oferta de serviços de saúde, moradias inadequadas com maior número de pessoas por metro quadrado, falta de saneamento básico, prevalência de comorbidades por não terem acesso a uma alimentação mais saudável e por consumirem mais produtos industrializados, fome e necessidade de 12trabalhar todos os dias para sobreviver, submetendo-se a empregos informais e mais expostos, como serviços gerais. O grupo das mulheres também foi afetado de modo diferenciado pela pandemia.