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“A Ilha Perdida” é narrado em terceira pessoa e aborda as aventuras dos irmãos Henrique e Eduardo, de quatorze e doze anos, respectivamente, pelo interior do Estado de São Paulo. Os garotos da cidade grande foram passar as férias de Verão na fazenda de seus padrinhos no Vale do Paraíba. Lá, a dupla de adolescentes conhece a história intrigante de uma ilha misteriosa localizada bem no meio do Rio Paraíba, descrito como caudaloso e bastante extenso. A ilha fluvial é chamada de Ilha Perdida pelos moradores da região por seu caráter isolado e pouquíssimo frequentado. Dizem que o lugar é totalmente inabitado. A Ilha Perdida exerce fascínio e medo em Quico e Oscar, os primos mais jovens de Henrique e Eduardo. Os meninos não se cansam de narrar aos primos visitantes o sonho de um dia visitar a misteriosa ilha no meio do rio.
Depois de descobrirem uma velha canoa estacionada às margens do Rio Paraíba, Henrique e Eduardo decidem visitar de maneira clandestina a tal ilha. Sem contar para ninguém sobre o itinerário do passeio (nem para Quico e Oscar eles divulgaram o plano), os dois garotos saem da fazenda dos padrinhos de manhãzinha munidos de água e de lanche e partem em direção à Ilha Perdida. A dupla chega ao destino sem problema nenhum. Maravilhados com a natureza virgem e exuberante, eles passam o dia explorando o local. Contudo, Henrique e Eduardo se perdem na floresta e não conseguem mais voltar até a canoa, deixada em uma das prainhas da ilha.
Só no dia seguinte os protagonistas do romance encontram a velha canoa. Porém, uma forte chuva tornou as águas do rio muitíssimo revoltas. O Paraíba está inavegável. Enquanto esperam a maré abaixar para retornar à fazenda dos padrinhos, os irmãos são surpreendidos por uma grande onda. Ela engole a canoa da dupla, levando-a para o meio do rio. Sem um veículo para voltar, Henrique e Eduardo ficam presos e, por consequência, incomunicáveis na Ilha Perdida. Para piorar, ninguém sabe que os adolescentes estão por lá. Como os garotos farão para retornar à fazenda dos padrinhos?!
Enquanto tentam bolar um plano para construir uma nova jangada, Eduardo e Henrique são separados um do outro. O irmão mais velho vira refém de Simão, um eremita que defende a ferro e fogo o isolamento da ilha que habita. O homem com hábitos aparentemente estranhos não aceita que ninguém volte daquele lugar, com medo que a beleza da floresta seja divulgada para os homens cruéis e predadores do “continente”. No pensamento pessimista de Simão, se alguém souber da riqueza da fauna e da flora da ilha, na certa vai querer invadir o local e destruir tudo. Por isso, ele não quer liberar Henrique de jeito nenhum. O rapaz se torna seu prisioneiro.
“A Ilha Perdida” tem pouco menos de 140 páginas que estão divididas em 16 capítulos. Para um adulto, esta leitura é extremamente rápida. Devo ter levado entre duas e três horas para percorrer integralmente o conteúdo da obra. Li tudo em uma única noite nesta semana. Na certa, uma criança e um adolescente demoram três ou quatro vezes mais do que isso para navegar por todas as páginas do livro. O resultado de “A Ilha Perdida” é realmente impressionante. Este romance é impecável. Eu o li pela primeira vez na minha infância e ainda hoje, antes desta segunda leitura, me recordava de algumas passagens.
O mais incrível de “A Ilha Perdida” é a sua atemporalidade. A obra não envelheceu nadinha de nada desde a sua publicação. Trata-se de um feito para uma história desenvolvida há três quartos de século. A sensação que temos durante esta leitura é de estar acompanhando uma narrativa contemporânea. Maria José Dupré construiu uma trama extremamente atual, com temas típicos do século XXI, como a sustentabilidade e a proteção ambiental. Maravilhoso notar que a autora paulista se preocupava com esses temas já na primeira metade do século passado. Essa pegada ecológica do texto mistura-se a uma intrincada história em que a fauna, a flora e o morador isolado da Ilha Perdida (um homem com um forte ideal de defesa do meio ambiente) são os responsáveis por solucionar o conflito dos garotos.
O lado fantástico de “A Ilha Perdida” está relacionado à vida harmônica e inteligente dos animais na floresta. Os vários bichos se comunicam e agem integrados em prol do bem comum. De certa forma, eles são os olhos, os ouvidos e, por que não, as mãos e os pés de Simão na ilha. A compreensão do quão bela e conectada pode ser a vida na natureza é parte do charme deste romance. Impossível não se emocionar com a alegria e as peraltices protagonizadas pelos vários amigos do morador isolado da floresta. Em alguns capítulos, os animais acabam roubando para si o protagonismo da narrativa, configurando-se em importantes personagens desta aventura.