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Explicação:
O Debate sobre a globalização: um ponto de partida sociológico
A globalização é um momento do sistema capitalista que pode ser entendido como um fenômeno de múltiplas dimensões – econômica, social, politica e cultural. O estudo da globalização vem sendo feito a partir da articulação dos conceitos utilizados para explicar a organização e as consequências do capitalismo. Trata-se, portanto, da análise de relações de poder, organização da produção e ideologias produzidas em escala internacional, com consequências importantes para nossa experiência no mundo.
Como todo debate que envolve diferentes agentes sociais com interesses conflitantes, a globalização também produz leituras divergentes sobre seu funcionamento atual e suas possibilidades futuras. O pensamento único procura estabelecer a globalização como um processo natural e benéfico na história da humanidade. A crítica a essa forma de análise pode ser dividida em duas posições, uma otimista e outra pessimista, em relação aos beneficios sociais e as outras possíveis consequências.
Para o pensamento único, a globalização é um momento de realização do sonho de reduzir o mundo a uma única aldeia global. Nessa aldeia, a tecnologia permitiria a difusão imediata das notícias e manteria toda a população informada, ao mesmo tempo que tornaria as viagens cada vez mais rápidas, encurtando significativamente as distâncias. Tal mobilidade permitiria o funcionamento de um gigantesco mercado global capaz de tornar homogêneos os diferentes os diferentes locais do mundo e produzir, assim, uma identidade universal que serviria de fundamento para a instauração de uma verdadeira cidadania global.
Essa visão idílica (sonhadora, utópica) da globalização é duramente criticada por especialistas nas Ciências Humanas, como o geógrafo baiano Milton Santos, que em sua crítica, procurou desmistificar o pensamento único. Para fundamentar seu argumento, Santos partiu de evidências sociológicas sobre a distribuição da riqueza e do poder que explicam as desigualdades sociais nos planos internacional e local, para então demonstrar o caráter ideológico de tal posição sobre o momento atual do capitalismo, ou seja, como essa visão do mundo como uma grande aldeia global, pregada pelo pensamento único, só funcionava para os ricos, o restante da população ficava de fora dessa “grande aldeia”.
A velocidade com que as noticias circulam no mundo nem sempre se traduz em informação para as pessoas. O proclamado encurtamento das distâncias atende apenas aos que possuem condições financeiras de viajar, e o grande mercado global tem, cada vez mais, demarcado diferenças regionais e promovido o consumismo. Ignorância, pobreza, desemprego, incapacidade de exercer a cidadania, disputas étnicas e diferenças separatistas ainda são situações comuns no planeta.
Entretanto, se a crítica à ideologia de uma globalização livre de problemas é pessimista, isso nos leva também a pensar sobre a possibilidade de ser estabelecida outra globalização. As bases técnicas que permitem que a globalização intensifique os aspectos negativos do capitalismo, evidenciados por desigualdades e violações dos direitos humanos. Tais consequências decorrem da forma como esses meios são empregados pela sociedade, eles poderiam portanto, ser utilizados para promover os ideais modernos de liberdade, igualdade e fraternidade no plano internacional.
Há evidências no mundo globalizado que justificam essa posição otimista, pois em todo o mundo é possível reconhecer os potenciais democrático que um uso alternativo de capacidade tecnológica e cultural da humanidade permitiria. Essas evidências podem ser percebidas nos seguintes fenômenos:
1º: A mistura crescente de povos, culturas e costumes promove outra mistura, de filosofias e pensamentos, que lentamente acaba com a exclusividade do racionalismo europeu (o modo de pensar o mundo como apenas os países ricos europeus pensam, como se a África e Asia não existissem ) na construção das “verdades” do mundo.
2º : A aglomeração de pessoas em áreas menores intensifica essas trocas e a produção de ideias e de ações novas, o que foi chamado de sociodiversidade.
3º: A emergência da cultura popular, que se apropria dos meios de cultura de massa, imprime valor estético e cultural a um espaço antes ocupado pela lógica do mercado.
Essas evidências apontariam para a sobrevivência e o revigoramento das relações locais, abrindo a possibilidade de usar os avanços tencnológicos a serviço da humanidade.