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Etimologicamente, o termo “psicopatia” deriva do grego (psyché = alma e pathos = paixão, sofrimento), sendo usado no século XIX, de forma genérica, para denominar qualquer tipo de doença mental. Seu uso para designar uma patologia específica data de 1888 (coincidentemente, o mesmo ano em que ocorreram os crimes de Whitechapel), a partir da publicação dos trabalhos de J. L. A. Koch, expoente da chamada Escola de Psiquiatria Alemã. Antes dele, essa patologia já havia sido identificada por outros autores que, no entanto, a designavam por vários nomes diferentes (a “mania sem delírio” de Pinel, a “monomania” de Esquirol, a “insanidade moral” de Prichard, a “loucura dos degenerados” de Morel, etc.).
Depois de Koch, são dignos de nota os estudos de três autores:
– Emil Kraepelin (1904), que se refere a um “tipo de pessoas que não são nem neuróticos, nem psicóticos, não estão no esquema de mania-depressão, mas se mantêm em choque com os parâmetros sociais imperantes” (MARIETÁN, 1998; tradução nossa); as “personalidades psicopáticas” seriam, para esse autor, “formas frustradas de psicose” (MARIETÁN, 1998; tradução nossa), caracterizadas pela inibição da vida afetiva e da vontade.
– Kurt Schneider (1923), que define as “personalidades psicopáticas” como um subtipo das personalidades anormais (no sentido de variações estatísticas da média normal), caracterizado por “aquelas personalidades que sofrem por sua anormalidade ou fazem sofrer, sob influência desta, a sociedade” (SCHNEIDER apud SÁ, 1995, p. 31).
– Hervey Cleckley (1941), que considera a pouca ligação com a realidade e o baixo vínculo social dos psicopatas como característicos de uma “psicose subjacente”, não havendo, contudo, os sintomas típicos da psicose, o que confere ao psicopata uma aparência de normalidade. O autor criou uma relação de 16 itens que caracterizariam a psicopatia (aparência sedutora e boa inteligência, ausência de delírios, não confiabilidade, insinceridade, falta de remorso ou culpa, conduta antissocial não motivada pelas contingências, falha em aprender através da experiência, pobreza nas relações afetivas, etc.); essa relação seria retomada e ampliada por Robert Hare na década de 80, dando origem à Escala de Psicopatia de Hare (PCL), atualmente utilizada nos meios psiquiátricos.
Após os trabalhos de Cleckley, o termo “psicopatia” foi sendo gradativamente substituído pelo de “sociopatia”, dando relevo ao caráter antissocial do comportamento do indivíduo. Em 1952, quando da publicação da 1ª versão do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria), tentou-se unificar a terminologia, criando-se a denominação “Distúrbio Sociopático de Personalidade”. Atualmente, os principais manuais de classificação diagnóstica utilizados pela psiquiatria (a CID-10 e o DSM-IV-TR) utilizam a denominação “Transtorno de Personalidade Antissocial”, considerando “psicopatia”, “sociopatia” e “perturbação dissocial da personalidade” como sinônimos. Por questões de tempo e espaço, não detalharemos aqui as descrições da CID-10 e do DSM-IV-TR, de qualquer modo, facilmente encontradas na Internet e na literatura específica.