A reinvenção da vírgula No começo de 1902, Machado de Assis ficou desesperado por causa de um erro de revisão no prefácio da segunda edição de suas Poesias completas. Dizem que chegou a se ajoelhar aos pés do Garnier implorando para que o editor tirasse o livro de circulação. O aristocrático e impoluto Machado, quem diria. Mas a gralha era mesmo feia. O tipógrafo trocou o E por A na palavra cegara, o revisor deixou passar, e vocês imaginam no que deu. No nosso caso, o erro não foi nada de mais, nem erro foi para falar a verdade, apenas um acréscimo besta de pontuação, talvez dispensável, ainda que de modo algum incorreto. Vai o revisor, fiel à ortodoxia da gramática normativa, e espeta duas vírgulas para isolar um adjunto adverbial deslocado, coisa de pouca monta, diria alguém, mas suficiente para o autor sair bradando aos quatro ventos que lhe roubaram o ritmo da sentença. Um editor experiente traria um cafezinho bem doce, a conter o ímpeto dramático do autor de primeira viagem, talvez caçoando, “deixa de onda”, a lembrá-lo – valha-me Deus! – que ele não é nenhum Bruxo do Cosme Velho*. E assim lhe cortando as asas antes do voo. * Referente a Machado de Assis. Disponível em https://jornal.usp.br/artigos/a_reinvencao_da_virgula/. Adaptado. a) Qual o sentido da palavra “espeta”, destacada no texto, e qual o efeito que ela produz? b) Explique o significado, no texto, da expressão “cortando as asas antes do voo”.
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a) A palavra “espeta” foi empregada em sentido figurado: “incluir, inserir”. O termo foi empregado em uma alusão à reação de contrariedade do autor que se sentiu desrespeitado por ter o seu texto “corrigido” pelo revisor.
b) A expressão metafórica “cortando as asas antes do voo” refere-se a uma forma de atividade por parte do editor para conter o ímpeto de supercorreção do “autor de primeira viagem”, que não era “nenhum Bruxo do Cosme Velho”.
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Espero q tenha ajudado
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