• Matéria: Sociologia
  • Autor: coisamaislindinha
  • Perguntado 3 anos atrás

pfvvv
Quando Weber escreve A ética protestante e o
espírito do Capitalismo, ele tende a propor uma
sociedade que se formasse sem bases
religiosas?

Respostas

respondido por: laislapaArmy6
1

O famoso texto de Max Weber “A ética protestante e o espírito do capitalismo” (1905) é certamente um dos mais mal-compreendidos trabalhos canônicos que é regularmente ensinado, mutilado e reverenciado em universidades mundo afora. Não quero dizer com isso que professores e estudantes são burros, mas que se trata de um texto excepcionalmente compacto que cobre um assunto muito amplo, escrito por um intelectual completo em sua melhor forma. Ele ficaria perplexo de saber que seu texto estava sendo usado como introdução elementar à sociologia para estudantes universitários, ou mesmo crianças em idade escolar.

Usamos a palavra “capitalismo” hoje como se o significado fosse evidente, ou como se viesse de Marx, mas esse descaso precisa ser deixado de lado. “Capitalismo” era uma palavra própria de Weber e ele a definiu do modo como achou mais adequado. Seu significado mais geral era simplesmente a modernidade em si: capitalismo era “o poder mais fatídico de nossa vida moderna”. Mais especificamente, ela controlava e gerava a “Kultur moderna”, o código de valores pelos quais as pessoas viviam no Ocidente no século 20, e hoje vivem, podemos acrescentar, em boa parte do mundo do século 21. Então, o “espírito” do capitalismo é também uma “ética”, apesar de que, sem dúvida, o título teria soado um pouco sem graça se tivesse se chamado “A ética protestante e a ética do capitalismo”.

Essa “ética” moderna ou código de valores não se parecia com nada do que havia antes. Weber supôs que todas as éticas anteriores – isto é, códigos socialmente aceitos de comportamento em vez das proposições mais abstratas feitas por teólogos e filósofos – eram religiosas. As religiões forneciam mensagens claras sobre como se comportar em sociedade em termos humanos diretos, mensagens que eram tomadas como princípios da moral compartilhados por todas as pessoas. No Ocidente, isso significava o cristianismo. Sua prescrição social e ética mais importante veio da Bíblia: “Ame ao próximo…” Weber não era contra o amor, mas sua ideia de amor era privada – um reino de intimidade e sexualidade. Enquanto guia de comportamento social em locais públicos, “ame ao próximo” era obviamente bobagem, e esse era um motivo importante pelo qual os pedidos das igrejas de falar à sociedade moderna em termos autenticamente religiosos eram marginais. Ele não teria se surpreendido com a longa temporada desfrutada pelo slogan “Deus é amor” no Ocidente no século 20 – sua carreira já estava lançada nos seus dias –, nem que suas consequências sociais pudessem ser tão limitadas.

A ética ou código que dominavam a vida pública no mundo moderno era muito diferente. Acima de tudo, era impessoal em vez de pessoal: na época de Weber, o consenso sobre o que era certo e errado para o indivíduo estava entrando em colapso. As verdades da religião – a base da ética – eram agora contestadas, e outras normas tradicionais – tais como aquelas pertinentes à sexualidade, casamento e beleza – também estavam entrando em colapso. (Aqui vai uma lembrança do passado: quem hoje pensaria em sustentar uma ideia unificadora de beleza?) Valores eram cada vez mais propriedade do indivíduo, não da sociedade. Então, em vez de caloroso contato humano, baseado em um entendimento compartilhado e intuitivamente óbvio de certo e errado, o comportamento público era frio, reservado, duro e sóbrio, governado por autocontrole pessoal estrito. O comportamento correto estava na observância dos procedimentos corretos. Mais obviamente, seguia a letra da lei (pois quem poderia dizer qual era o seu espírito?) e era racional. Era lógico, consistente e coerente: ou senão obedecia as realidades modernas inquestionáveis tais como o poder dos números, das forças do mercado e da

Perguntas similares