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Explicação:
“Ser indígena no Brasil é pertencer à história que não é contada”
A pandemia da covid-19 ressaltou o panorama histórico que impacta as comunidades indígenas, um genocídio ocasionado pela negligência das autoridades e pela ineficacia das políticas públicas que não chegam a essas pessoas. Atualmente, são cerca de 52 mil casos de Covid-19 e mais de mil mortes pela doença, conforme a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil .
O país, frente à diversidade dos povos originários, exerce, dentre outras, uma contradição histórica que fortalece a morte de quem é visto como diferente. Ao mesmo tempo que as várias culturas indígenas são alvos de guerra, tendo sua percepção de mundo atacada, por outro lado o país que se apresenta nacionalmente como sendo um povo, se mostra internacionalmente como palco de celebração da diversidade.
Essa fachada bipolar, reproduzida na literatura brasileira pelo indigenismo e evidenciada, de forma estereotipada, no "dia do índio", reforça o ser indígena tanto como um personagem da selvageria quanto um herói nacional com padrões europeus, mas o impede de ser uma pessoa que tem sua cosmologia, sua visão de mundo, e direitos culturais respeitados.
Diversidade e indígenas é um sinônimo pra mim. Quando falamos de um país com uma multiplicidade de povos, tradições, fenótipos e línguas, é preciso lembrar que estamos em um território multiétnico, e cada nação tem seu modelo de organização social.
Existe um processo de apagamento das línguas faladas pelos povos indígenas no Brasil.
Cada povo com sua própria característica, sua língua, sua cultura, seus cantos e danças, sua medicina e seu conhecimento é a diversidade que existe entre povos.
As ameaças, despejos, expulsões por grileiros e proprietários de terras, e as mortes de lideranças indígenas batem recordes com o atual governo.
Assim também acontece com a monocultura da história do Brasil, que cerca outras formas de contar a mesma história. De forma que impede os povos originários de também ter a possibilidade de dizer o seu ponto de vista quando se depararam com aqueles colonizadores europeus que chegaram imundos, com mal cheiro e famintos no litoral de Pindorama. »
É a paz que precisamos para notar os detalhes que é a nossa vida nas mãos do nosso Criador, diz a professora Géssica Nunes, pertencente à etnia Guarani Nhandewa, que vive na região sul do Brasil.
Para nós indígenas, temos nossas crianças como esperança de manter nossa cultura viva.
Ao meu ver falta um olhar mais humanizado para nossas crianças, ou se quer é assegurado o direito ao afeto e ao cuidado», conta Rosa Kambeba, administradora e servidora pública que vive na região Centro-oeste do Brasil. »
A pedagoga Vanessa Karajá afirma que as crianças dos povos originários precisam ser melhor atendidas e ouvidas a partir de suas vivências.
Infelizmente, ainda vivemos uma cultura do silenciamento onde a vítima, na maioria das vezes, se culpa pelos fatos ocorridos, aponta a professora Vanessa que também vive na região Centro-oeste do Brasil.
O Le Monde Diplomatique Brasil retratou a situação no documentário Negligência de quem?
As crianças também são vítimas das consequências causadas pelos conflitos de terra no Brasil.
A ideia de desatenção às crianças é julgada apenas pela ótica do Estado através do Conselho Tutelar, sem o diálogo com os povos indígenas e seu contexto cultural. Muitos indígenas possuem mais de três filhos e isso dificulta na criação, pois cada vez mais estamos mais dependentes do Estado e de políticas públicas.
Muitos indígenas, como minha família, estão reivindicando a demarcação de suas terras ancestrais, o processo de demarcação é longo e a ocupação faz com que as crianças fiquem expostas ao sol, chuva e violência, relata Vanessa. ser indígena no Brasil é ser resistente e resistência.
Ser indígena no Brasil é pertencer a verdadeira história que não é contada, finaliza Txahá, do povo Pataxo.
material retirado do site favelaempauta
Matéria realizada pelas repórteres: Ariel Bentes, Dandara Franco e Ludmila Almeida.
Edição: Renato Silva.