Respostas
Resposta:
Esta história se desenrola em um ambiente insanamente tenso que leva aos seguintes
questionamentos: esta instituição foi criada por uma chefa extremamente exigente ou ela
mesma é um produto semelhante a qualquer outro fabricado em uma linha de produção? Qual
seria, então, o verdadeiro produto da Runway: a moda que deve ser usada ou um modelo
ideológico de funcionamento que produz uma massificação dos sujeitos?
Um dos produtos institucionais da Runway é uma visão natural que leva as pessoas a
pensarem que o controle sobre os sujeitos (e não sobre os processos produtivos) ajuda a
manter o lucro e o status quo. Este produto intangível vende uma garantia de sucesso
capitalista com as manobras necessárias para a manutenção do poder institucional, muito
atrativo a qualquer mercado.
Há outra opção? E as equipes coordenadas eticamente fazendo-se produzir em sua
potência? O interessante é que o discurso predominante no mundo organizacional é de se
procurar trabalhar em equipes e com auto-gestão. Muitos treinamentos e consultorias são
contratados para se implantar esta “nova” tendência. Mas, freqüentemente, as organizações
solicitam novas formas de intervenção ao proclamarem que tais treinamentos e consultorias
não surtiram efeito. Qual seria, então, o motivo para estes insucessos?
Na maioria das vezes o que se vê é um medo e uma fantasia de se perder o controle
sobre as pessoas nos modelos mais abertos de funcionamento (que não dispensa limites e
respeito), o que prejudica a implementação de verdadeiras mudanças. Além do mais, os
modelos institucionalmente testados e tidos como eficazes (do ponto de vista capitalista)
existem e estão brilhantemente ilustrados no filme “O diabo veste Prada”. Há, então, que se
fazer uma opção. É verdade que os modelos organizacionais verticalizados funcionam
eficazmente, mas é uma inverdade que modelos de funcionamento e organização mais
horizontalizados, ou que prestigiem os sujeitos em sua potência, e não necessariamente pela
hierarquia, trazem o perigo de desestabilidade e de menos lucro.
O que se vê então é mais discurso e menos prática, pelo menos como se pronuncia por
aí. Teria algo a mais a ser pensado? Há que se considerar que os modelos rígidos ou
narcísicos dão vazão a um gozo perverso que seduz e encanta os sujeitos imersos na
instituição, tais como ficaram Nigel e Emily, nutridos pela ilusão de um reconhecimento
maior de Miranda. Aliás, a ilusão é produto muito comum nas mais diversas instituições.
Na trama, os sujeitos agem mais como fantoches do que como seres humanos, até que
Andy depara-se com o quanto se identificou e personificou a insígnia maior da Runway: eu
sou o melhor em detrimento do outro, confundida com a própria organização.
O filme, com brilhantes atuações, remete a importantes reflexões acerca dos sujeitos
na roda viva contemporânea: a manutenção da produtividade, do status e do poder, e
principalmente, ao que é mais importante, existem saídas e que estas estão diretamente ligadas
às escolhas feitas frente às situações adversas evidenciadas e duramente impostas por
qualquer “Miranda”.
Esta é a grande mensagem que a personagem Andy deixa para todos: os sujeitos
podem pertencer a si mesmos e Miranda não é tudo! Há saídas e há outros modelos (a própria
Miranda reconheceu isto ao recomendar Andy para outro trabalho). Talvez Andy tenha feito o
que Miranda, de alguma forma, tenha desejado, mas foi sucumbida pelo detalhe sádico do
poder: o diabo vestiu salto alto e o inferno terá que aguardar a concorrência