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Resposta:
O conceito de governança global ganhou proeminência nas análises internacionais no
decorrer da década de 1990. O estabelecimento da Comissão sobre Governança
Global das Nações Unidas (1994), a publicação do relatório Our Global Neighborhood
(1995), a criação do periódico Global Governance (1995) são alguns exemplos da
importância crescente do tema. Trata-se de uma tentativa de compreender as
mudanças ocorridas no final do século XX: o fim da Guerra Fria, a intensificação dos
processos de globalização econômica, a difusão de informação em escala global, a
reformulação do papel de organizações internacionais e o aparecimento de novos
atores que alteraram as relações internacionais, em especial no que concerne às
esferas de autoridade e poder em escala global. Afirmando-se como uma crítica a tal
abordagem, surgem, nos anos 2000, autores que buscam em Foucault, especialmente
no conceito de governamentalidade, uma alternativa crítica à análise das relações de
poder na política internacional. O intuito é o de superar a ideia de governança global,
tida como racionalista e positivista. Interessante nesse novo movimento teórico é a
crítica epistemológico-metodológica subjacente: uma discordância em relação às
perspectivas explicativas das Relações Internacionais, das quais a abordagem da
governança global seria um exemplo. Autores que utilizam a noção de
governamentalidade seriam representativos das perspectivas compreensivas e
interpretativistas. Não obstante a apropriação do conceito de governamentalidade
pelas Relações Internacionais faz-se, ainda, no quadro epistemológico denominado
por Giddens de consenso ortodoxo, uma leitura específica das ciências sociais
desenvolvida no âmbito acadêmico estadunidense, o que, no nosso entender,
colocaria limites às transformações metodológicas e epistemológicas pretendidas no
campo das Relações Internacionais. Assim, nosso objetivo é o de analisar, a partir das
abordagens de governança global e de governamentalidade, como a dicotomia entre
explicação e compreensão é construída no campo das Relações Internacionais, bem
como entender seus limites e possibilidades de superação.