• Matéria: Português
  • Autor: lindamorimoto2016
  • Perguntado 3 anos atrás

Sabemos que no mundo todo, sempre que uma criança surda nasce, ela tem aproximadamente 95% de chance de cair em um lar ouvinte. Isso não significa que a vida da criança surda será mais fácil. Pelo contrário, como os pais ouvintes nem sempre estão em condições de tomar decisões informadas em torno de comunicação, médicos e intervenções culturais, há casos de privação linguística nos primeiros anos de vida da criança por não ter contato com sua L1 (Língua de Sinais). Já as crianças que são filhas de pais surdos, aproximadamente 5% das crianças surdas nascidas no mundo, têm um grande diferencial, pois desde o nascimento têm contato com sua L1 (Língua de Sinais).


Você, é professor de séries iniciais, recebeu em sua sala de aula as duas situações:


Crianças surdas filhas de pais ouvintes.

Crianças surdas filhas de pais surdos.


No que tange ao estágio interlíngua de aquisição ou aprendizado da Libras, explique a diferença entre as duas situações expostas justificando sua resposta:

Respostas

respondido por: vivianebastosmoraes
4

Resposta:

Crianças surdas filhas de pais ouvintes.

Esse exemplo é o mais clássico e preocupante de todos, em que a criança surda nascida em lar ouvinte representa 95% dos casos no mundo. Nesse cenário, há os quadros mais graves de privação linguística, no qual a criança pode ficar anos sem exercitar a fundo algum tipo de linguagem humana, oral ou sinalizada. Além disso, ela dificilmente tem acesso à língua de sinais nos 48 Estágios de interlíngua na aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais primeiros anos e, por mais que tenha acesso ao português oralizado pelos pais, não fará diferença, pois é surda e vê somente bocas se mexendo.

Antes de chegar a educação básica, a criança já passou por diversos

médicos especialistas, usa aparelho auditivo e faz terapia da fala com o

fonoaudiólogo, e seus pais podem estar cogitando que ela faça uma cirurgia de implante coclear (se já não tiverem colocado o aparelho na sua cabeça antes dos 5 anos). Essa criança surda que nasce em lar ouvinte, em geral, sofre com a falta da língua de sinais e a resistência dos pais em leva-la para conhecer a comunidade e a cultura surda. Os abalos psicológicos e emocionais que surgem na infância e se mantêm quando adulto devem ser evitados, o que é possível ao possibilitar que a criança tenha acesso à construção de sua identidade como ser surdo.

Ainda com base nesse cenário, ao chegar à educação básica, geralmente em escola regular, essa criança tem pouco ou quase nenhum conhecimento da língua portuguesa oral e escrita, por isso, é muito difícil criar uma interlíngua baseada no português para fazer uma ponte de aquisição da Libras. Na verdade, deveria ocorrer o contrário.

Se a criança não tem base nenhuma de sua L1 (Libras), como ela fará a

ponte de interlíngua. Seria o mesmo que deixar uma criança brasileira que ainda não domina o português oral e não sabe Libras para viver com uma família de surdos por um tempo, por exemplo, 5 anos, e dizer para ela usar a língua portuguesa como interlíngua para aprender a Libras.

A relação de interlíngua que a criança surda pode criar, servindo como

ponte entre a língua portuguesa e a Libras, é o sistema datilológico, em que saber o alfabeto em português é fundamental para aprender as configurações de mãos. Para ela usar sinais e a própria Libras independe de já conhecer o alfabeto, porém, mais tarde, esse conhecimento será necessário como um recurso de empréstimo linguístico, em que as palavras em português são utilizadas por empréstimo na falta de um sinal em língua de sinais ou para reforçar a sinalização. Por exemplo, o surdo faz o sinal de empoderamento e,

logo após, usa o datilológico para reforçar exatamente a qual palavra aquele sinal se refere.

Crianças surdas filhas de pais surdos.

Nesse caso, há o exemplo que representa os 5% de casos de crianças surdas que nascem em lar surdo, contra 95% daquelas que nascem em lar ouvinte.

Ela terá acesso à língua de sinais desde o primeiro dia e, provavelmente, será matriculada em uma escola bilíngue para surdos, em que seu desenvolvimento da L1 será muito similar ao de uma criança ouvinte, que nasce em lar ouvinte, cresce rodeada de ouvintes e vai à escola para aprender em língua portuguesa.

Para o filho surdo de pais surdos, acontece o mesmo, pois ele nasceu em um lar surdo, crescerá no meio da comunidade surda e irá à escola de surdos, onde assistirá as aulas sendo ministradas em língua de sinais.

46 Estágios de interlíngua na aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais.

Quando esse aluno tiver que desenvolver a sua L2 (português), pois o

ensino e o uso da Libras não substitui o aprendizado da língua portuguesa escrita, ele usará a sua L1 (Libras) como interlíngua para desenvolver suaescrita em L2. Pelo fato das duas línguas serem de modalidades distintas, a construção do aluno surdo e do futuro adulto surdo dificilmente será igual ao de um ouvinte, cuja L1 é o português.

Explicação:

respondido por: mikaeltr
0

Resposta:

Explicação:

No primeiro caso, a criança surda filha de pais ouvintes terá o contato primeiramente com o Português. Dependendo do grau de perda auditiva, poderá resultar em certo aprendizado da língua e capacidade de compreensão, não necessitando da Língua de Sinais em alguns casos. A grande questão está na criança com surdez profunda, que irá ter maiores dificuldades de aquisição da sua L1 (Libras) por estar distante de outros sujeitos surdos que sirvam de referência para ela desenvolver a Língua de Sinais. O Português não é sua L1 e por mais que ele possa ser aprendido como L2, no momento em que está relação se inverte, devido ao fato de ter pais ouvintes, a criança surda passa por situações de privação linguística, já que não consegue se expressar em Português nem em Libras (pois ainda a desconhece). Ao ser apresentada a Libras, a criança poderá já ter algum conhecimento sobre a Língua Portuguesa, passando a ser bilíngue e a formar modelos interlíngua em sua mente, correlacionando as duas, o que ajuda a aprender e decorar os primeiros sinais de acordo com as palavras que já conhece. Além disso,  a Libras proporciona a relação entre o alfabeto em Língua Portuguesa (que pode já ter sido ensinado ou não à criança) e o alfabeto datilológico em Libras. Durante a produção de sinais, ao esquecer-se de um deles (e havendo equivalente a uma palavra em Português), rapidamente o cérebro fará uso da relação interlingual para a datilologia do sinal. Com o passar do tempo, a criança irá ganhando fluência e utilizando cada vez menos a datilologia (apenas quando necessário). Por isso, é tão importante que a criança surda tenha o contato com a Libras desde os primeiros anos de vida e a oportunidade de imersão na comunidade surda desde cedo, pois facilita a construção de um sujeito bilíngue que usa a Língua de Sinais, mas não tem como abrir mão de em alguns momentos usar sua L2 (Português), seja na forma escrita ou datilológica.

No segundo exemplo, a criança surda filha de pais surdos, terá o contato primeiramente com a Libras e vivenciará experiências visuais próprias da comunidade surda. De alguma forma, os pais surdos irão apresentar a ela a relação mais próxima para o uso do Português, que é a datilologia e depois na escola bilíngue para surdos, ela terá a oportunidade de aprender e desenvolver a escrita de Língua Portuguesa. A criança surda que nasce em lar surdo tem enormes vantagens sobre a criança surda que nasce em lar ouvinte, pois desde os primeiros anos de vida ela já terá acesso à sua L1 (Libras), a qual irá, com o passar do tempo, utilizá-la para aprender e desenvolver sua L2 (Português), principalmente na forma escrita. Nesse contexto, o estágio interlíngua da criança surda filha de pais surdos é amplamente favorável, porque ela parte de sua L1 para chegar ao equivalente a um entendimento de L2, o que no primeiro exemplo citado não ocorre, já que a criança surda sofre com a privação linguística de sua L1 e aprende ou tenta aprender a L2 sem ter base ou conhecimento da L1 (Libras). Isso dificulta a formação de modelos ou estágios de intelíngua na mente da criança, pois o desenvolvimento inicial não é bilíngue e, sim, monolíngue (só o Português).

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