• Matéria: Português
  • Autor: pascalesousa
  • Perguntado 3 anos atrás

Uma das principais formas de elucidar as particularidades de uma obra literária é lê-la comparativamente a outras de seu e de outros contextos.

Você, ao ministrar uma aula de literatura sobre a obra de João Melo, busca atentar seus alunos para as diferenças de sua obra em relação à dos escritores da geração revolucionária de meados do século XX. Para isso, você decide comparar o início do conto “O pato revolucionário e o pato contrarrevolucionário” a um trecho do poema “Adeus à hora da largada”, de Agostinho Neto.


Quais diferenças na representação dos sujeitos africanos você destacaria para seus alunos na comparação entre os dois textos?

Anexos:

Respostas

respondido por: oliveiraluana62181
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Padrão de resposta esperado

Devido à complexidade das duas obras literárias em questão, há diversos aspectos que podem ser mencionados, não cabendo apenas uma resposta ao desafio.

No entanto, é possível elencar alguns aspectos fundamentais no que diz respeito à representação dos sujeitos africanos nas duas obras:

• Em “Adeus à hora da largada”, o sujeito-lírico representa o africano a partir de alguns signos tais quais a negritude, a pobreza, a exploração, a forte relação com a maternidade (tanto em um sentido mais individual, quanto coletivo - podendo esta simbolizar a própria África) e a revolução. A revolução dos indivíduos africanos é projetada, em tom profético, para um futuro certo, em que não há espaço para a incerteza. Daí o tom afirmativo do desfecho do poema: “amanhã entoaremos hinos à liberdade quando comemorarmos a data da abolição desta escravatura". Por esse motivo, o texto de Neto ganha contornos épicos, elevando aqueles que dedicariam a vida à independência dos países africanos à condição de heroicidade.

• Em “O pato revolucionário e o pato contrarrevolucionário”, o narrador representa os sujeitos angolanos (não há a opção por uma representação mais generalista do sujeito africano) a partir de signos tais quais o descomprometimento e o bom humor. Se o sujeito-lírico de Agostinho encarnava em suas palavras o próprio espírito revolucionário em uma dicção sóbria, austera e convicta, o narrador de Melo também encarna as caraterísticas angolanas que menciona, criando, assim, um discurso que, por meio da ironia e da metanarrativa, subverte a tradição narrativa. Fica evidente, portanto, a diferença na representação dos dois escritores, sendo a primeira utópica, épica e revolucionária, e a segunda distópica, relativista e contrarrevolucionária.

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