Respostas
Resposta:
SINTESE
Explicação:
O ENREDO É QUE A AMIZADE SEMPRE SERÁ MAIOR QUE TUDO
Resposta:
Esta Resenha discorre sobre impressões e significações a respeito da obra intitulada de – Shaira e a saudade –, considerando inicialmente a fala da escritora enquanto mulher branca, nascida em um ‘lugar de privilégio’, que apesar de nunca ter sentido na pele os infortúnios do racismo e/ou outros estereótipos, precisou se descolonizar para escrever. Dessa forma, o olhar de quem lê/escreve parte de “um outro lugar”, tecendo questões que respingam em seu imaginário: trata-se, por acaso de ‘um outro’ que nunca esteve aqui? Ou de ‘um outro’ que volta para nos contar suas histórias de discriminação, exclusão e saudade? Ou talvez, de um “eu” que, com ‘memória de elefante’, tenta combater a intolerância racial, utilizando a leitura como artefato para atingir a égide das mentes leitoras?
Introdutoriamente, a autora chama a atenção para o fato de como tem sido negligenciado pela escola as vozes de escritoras/es negras/os, que parecem traçar as linhas divisórias nos discursos pedagógicos, ou até mesmo um desconhecimento dessa literatura na práxis das/dos educadoras/es. As discriminações de raça são produzidas e reproduzidas em todos os espaços da vida social, inclusive no âmbito familiar e escolar. Desde muito pequenas/os a cultura molda os comportamentos e atitudes de meninas e meninos segundo as normas estabelecidas historicamente. As representações e ausências acerca desse processo influenciam na construção e/ou desconstrução de estereótipos responsáveis pela perpetuação de discursos e práticas discriminatórias.
Com base no título e suas ilustrações, há o destaque para a palavra saudade, que embora, etimologicamente, esse vocábulo só exista na língua portuguesa, em outros idiomas utilizam-se de diversos termos para demonstrar esse sentimento. Vem de "soedade", que já foi "soledade", e que, por sua vez, provém do latim "solitate". Tal, qual Shaira, o romance é uma semente de resistência, lembranças e lutas demarcadas. Constituiu-se em um fio para que meninas/os se reconheçam na protagonista, e se (re)construam enquanto sujeitos plurais e coletivos.
A obra está dividida em seis capítulos, a saber:
Capítulo I, A partida; capítulo II, Memória de Peixe; capítulo III, O Epelho D´água; capítulo IV, A conversa com Deus; capítulo V, Iaiá e capítulo VI, A Imortalidade da Saudade.
Correia (2019) introduz na premissa do livro, a Saga de Shaira que começa nas proximidades de Ouidah, cidade do Reino de Daomé, região do continente africano, conhecida como Costa dos Escravos. Com apenas 14 anos de idade, a protagonista da obra é usurpada de seu país, arrancada dos braços de sua mãe Zarina e de seus irmãos. A autora reitera a difícil travessia dos tripulantes escravizados, as condições sub-humanas vivenciadas durante a viagem nos porões do navio negreiro, um espetáculo fúnebre. Destaca ainda, que na segunda metade do século XIX, já era proibido o tráfico negreiro, porém, assim como a Lei Áurea, Lei do Ventre Livre, Lei do Sexagenário, só funcionaram no âmbito do papel.
Trata-se da luta pela liberdade, numa época em que gente era vendida pela cor da pele como mercadoria. Somando-se a isso, a pequena protagonista foi obrigada a mudar de nome, um ‘pseudônimo’ quem sabe, diriam os adolescentes, nascidos na Era digital – fake/nickname –. Outrossim, fora submetida ao batismo católico, assim como os outros escravos logo que chegaram ao Porto de Salvador. Segundo a crença, era preciso que fossem batizadas/os para não trazerem maus costumes. Dessa forma, Shaira não compreendia por que a cor de sua pele a tornava diferente das outas pessoas, queria ter memória de peixe para não lembrar e não sentir a dor da saudade que sufocava e machucava seu ser.
A escritora montessantense faz um link entre a historiografia do negro viabilizando Luiz Gama, um menino baiano, filho de um fidalgo com uma africana rebelde que foi vendido como escravo pelo próprio pai. A história registra que Luiz Gama reconquistou a liberdade, serviu ao exército e trabalhou como escrevente de polícia; entretanto, foi impedido (pela cor) de cursar a faculdade, mas ainda assim, tornou-se poeta, jornalista e advogado. Embora sem diploma e anel, conseguiu resgatar 500 negros da escravidão em pleno Brasil imperial. A partir de então, ficou conhecido como ‘advogado dos escravos’ e em 2015 foi reconhecido oficialmente como advogado pela OAB e nomeado, por leis federais, como o patrono do abolicionismo brasileiro e heroi da pátria.
ESPERO TER AJUDADO