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texto se desenvolve em três etapas complementares: primeiro, discutimos a estratégia da negação da política, com a qual Bolsonaro afrontou valores democráticos sem romper definitivamente com a democracia, tanto na campanha presidencial como na pandemia. No segundo momento, discutimos a estratégia do negacionismo como política, importante para a compreensão do modo como Bolsonaro empreendeu sua gestão da pandemia. No terceiro momento, argumentamos que durante a pandemia aquelas duas estratégias se conjugaram, produzindo fenômenos sócio-políticos que corroem a democracia, como a banalização das mortes e a naturalização da clivagem entre vidas valiosas, vidas submetidas a processos de menos-valia e vidas descartáveis
candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República em 2018 beneficiou-se de um ambiente prévio de forte rejeição à política e aos políticos tradicionais. Este ambiente político não é certamente novidade no Brasil, mas foi se fortalecendo e se generalizando desde as manifestações públicas de Junho de 2013, as quais, ao longo de pouco mais de 30 dias, evoluíram da cobrança coletiva por melhores serviços públicos urbanos, para a rejeição abrangente e incondicional contra tudo isso que está aí, a luta contra a corrupção tornando-se uma de suas principais bandeiras. As Jornadas de Junho de 2013 foram um acontecimento político inesperado e enigmático, um signo a ser interpretado, motivo pelo qual se travou acirrada batalha interpretativa a respeito de seu significado político (Bignotto, 2020; Nobre, 2020, 2013; Maricato et al., 2013). Tudo começou com as reivindicações do Movimento Passe Livre (MPL) em grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Florianópolis, Porto Alegre, Curitiba, dentre outras capitais. Inicialmente, seu foco foram os aumentos do preço do transporte público, com tudo que essa medida acarreta para a experiência cotidiana da vida nas grandes cidades, sobretudo para os jovens e os trabalhadores. Rapidamente, contudo, o movimento evoluiu e surgiu um lema significativo: Não é apenas por 20 centavos! Durante algumas semanas, o que se viu foi uma imensa multidão de jovens que saíram às ruas pela primeira vez para participar de um movimento político difuso, mas que, ao menos inicialmente, parecia dar sinais de que pretendia aprofundar o processo de transformações e de inclusão social que fora iniciado com as políticas de inclusão social do Partido dos Trabalhadores. Ao mesmo tempo em que o MPL inaugurava um espírito de rebeldia anônimo, criativo e independente dos partidos políticos, a grande mídia entregava-se à tarefa de pautar o movimento na direção do combate à corrupção, bem como repudiava as violências cometidas durante as manifestações, dividindo os manifestantes entre os assim chamados vândalos e os cidadãos ordeiros. A partir de então, o que era um movimento a-partidário foi se tornando um movimento anti-partidário e contrário à própria política. Durante esse importante giro começaram a surgir forças autoritárias, representadas por grupos sociais vinculados à direita e extrema-direita. Não faltou quem alertasse, desde o início das manifestações, para o perigo político que elas traziam consigo, motivo pelo qual, retrospectivamente, se tornou lugar-comum afirmar que elas foram o ovo da serpente que eclodiu no impeachment de Dilma Rousseff. Por outro lado, o caráter autônomo, descentralizado e horizontalizado das Jornadas também parecia indicar a possibilidade de um fortalecimento da democracia brasileira. Parece-nos, portanto, simplista a tese que busca estabelecer relações de causa e efeito entre as Jornadas de Junho de 2013 e o impeachment de 2016, embora não caibam dúvidas de que foi durante este período que começou a se agravar a atual crise da democracia brasileira. Newton Bignotto (2020) analisou recentemente essa crise que se desenvolveu entre 2013-2018 a partir da noção de “guerra de facções” entre grupos políticos que defendem posições ideológicas e de interesses particulares radicalmente contrapostos, cada um deles visando a se “[...] apropriar dos mecanismos estatais para fazer prevalecer seus pontos de vista a todo custo” (2020).
A rejeição à política começou a se aprofundar em 2014, na esteira das manifestações a favor e contra as obras públicas para a realização da Copa do Mundo. Também contribuiu o agravamento da crise econômica e a estagnação do crescimento do PIB, além da inauguração e gradual intensificação das ações da Operação Lavagem de dinheiro .
ficou um pouco grande me desculpe mais é o assunto mais resumindo e detalhado