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A entrada no mercado de uma classe média mundial gigantesca e sedenta por novidades fez o modelo de consumo, adotado pelos Estados Unidos no século XX, replicar no restante do mundo em uma escala espantosa. A taxa de obsolescência encurtou à medida que a inovação acelerou e o processo de produção ficou mais barato. Muitas vezes, porém, o salto tecnológico não existe. pesquisas mostram que o ponto determinante para a troca de um bem de consumo é o que está por fora:
Em prol dessa inovação, tecnológica ou plástica, o mundo ficou carregado de objetos que logo se tornam inúteis e são descartados. Mas o que isso significa? Quando passou a fazer sentido comprar um produto novo e jogar o usado fora? Parte das respostas está na cultura capitalista de consumo, cumulativa por natureza, na inovação e nas mudanças na estrutura familiar da sociedade e parte no que a economia batizou como obsolescência programada.
Marca do mercado de consumo no pós-Segunda Guerra, a obsolescência programada é um conceito no qual a indústria de bens prepara desgastes artificialmente curtos para obrigar o consumidor a uma reposição mais rápida do produto. A lógica é simples: se não há novos consumidores suficientes para cada produto, então é preciso fazer que os mesmos consumidores comprem o seu produto outra vez. A princípio, isso ocorreu através de mudanças técnicas, depois através da aparência dos produtos e dos modismos e, finalmente, reduzindo a sua durabilidade.
Ávido por novidades, o consumidor passou a ter mais facilidade para obter o aparelho dos sonhos, que já não precisava durar tanto, mas apresentar design arrojado e reunir várias funções.
O desejo do novo, daquilo que é visto como uma catapulta para a ascensão social e nos torna supostamente superiores, é um valor que não só empurra os produtos para o fundo da gaveta ou para o lixo, como pressiona a indústria por mais tecnologia.
O valor de um produto não é o que me traz diretamente a felicidade, mas deriva do fato de que os demais estão excluídos do acesso a ele.
O problema desse movimento é que ele não tem fim. À medida que a sociedade prospera, as pessoas competem pelos bens posicionais. É aquele estágio em que as necessidades básicas do ser humano foram satisfeitas e passam a abrir espaço para a ânsia de se distinguir em relação às pessoas comuns. É quando o foco da sociedade volta-se para ocupar um lugar de honra na mente dos seus semelhantes. E, quanto mais se avança sobre os bens posicionais, mais as pessoas sentem que falta algo. Não tem solução econômica para isso. Mas a conta recairá sobre o meio ambiente.
Precisamos de duas atitudes. A primeira é produzir menos lixo. Nosso mundo está descartável demais. Acho que isso contagia; quanto mais coisas descartáveis usamos, mais descartáveis nos tornamos. Assim, não damos mais valor às coisas que temos e lutamos tanto para conseguir.
A segunda atitude é repensar a definição de lixo e quebrar o paradigma de que lixo vai fora. Onde é fora? No aterro, no lixão, na rua? Esse fora aí é no nosso mundo. Temos de pensar no destino correto e numa definição diferente.
No entanto, o mais importante não é mudar o nome e sim a atitude de todos.