Respostas
Resposta:
A tela mostra uma espécie de caminho para reverter a maldição de ser afrodescendente, branqueando os personagens. É perceptível o naturalismo presente na obra, que traz gradações de cores entre as três gerações dos personagens. O bebê é o mais branco, seguido pelo pai, sentado ao lado da mãe, que segura a criança no colo. No canto esquerdo da tela, quem tem a pele mais escura é a avó, com mãos erguidas ao céu em agradecimento. Por nascer branco, seu neto foi livrado da maldição de ser negro, já que sua filha, mulata, casou-se com um homem branco. Sentados estão a mãe da criança, que a carrega em cima dos joelhos, e um homem com as pernas cruzadas, supostamente o marido branco e responsável pelo "branqueamento" do descendente.
Explicação:
Podemos notar que essa gradação de cor segue da esquerda para a direita, mostrando a mestiçagem em seu processo completo. Pois, não se trata apenas de uma eliminação cultural e racial, mas também da necessidade de um progresso que, aos olhos de Brocos, só viria por meio do branqueamento da população e da aproximação com a cultura europeia, eliminando e ignorando as demais etnias e costumes.
Essa negação da cultura africana fica aparente quando reparamos nas vestes das personagens femininas; já que ambas usam roupas ocidentalizadas e não trajes que remetem à origem das mesmas. O corpo da mulher sentada está coberto por roupas, fazendo com que pareça mais europeu do que africano.[Aqui, está presente uma ideia de ajustamento das mulheres negras à moral cristã e a um ideal de reprodução branqueador. Além disso, é notório que as duas personagens que não possuem a pele branca, são mulheres: a mãe e a avó, estabelecendo uma oposição de cor em relação ao bebê e o pai. Há um reforço da visão progressista da pele branca quando percebemos que o chão em que o homem pisa é de pedra, mostrando uma evolução em relação ao que as mulheres pisam, que é de terra. Mais uma vez, o europeu de pele branca é representado como superior, e isso fica explícito até na pose em que o homem, de costas, olha o resto da cena. A posição das mãos e olhares entre os personagens trazem coerência à mensagem que Modesto Brocos quis passar. A obra lhe rendeu a medalha de ouro no Salão Nacional de Belas Artes de 1895 e mostra os rumos da arte brasileira no final do século XlX.