O nosso desafio compreender as preocupações e motivações de Étinenne de La Boétie (1530-1563), que se dedicou a encontrar explicações sobre como um único indivíduo (que definiu como tirano/governante) tinha tanto poder sobre o povo(governados/súditos).
Seus questionamentos o levaram a outra pergunta: porque a população se deixa dominar, por que há essa servidão voluntária?
La Boétie, apresentou três motivações para que a servidão voluntária: 1) o costume, pois, os homens se deixam dominar porque são educados a serem dominados; 2) o encantamento, uma vez que, os homens se deixam encantar pelos que dominam e, esses por sua vez , utilizam estratégias com o poder para se fazer temer, para persuadir, convencer e usar; 3) a estrutura da dominação, pois, identificou um rede de dominação que faz que do topo à base da pirâmide todos se deixem governar.
Evidentemente, que essa estrutura de relações de dominação, do tirano absolutista presente na obra do autor, é configurada em um contexto sócio-histórico muito distinto da nossa realidade, contudo, não se pode negar a atualidade da narrativa desenvolvida por La Boétie, principalmente em uma realidade patrimonialista como a brasileira.
Considerando as três motivações da servidão voluntária, desenvolva um texto argumentativo correlacionando as ideias do autor com a vida política nacional. Para a orientação, você pode utilizar como exemplos: processo eleitoral; a mitificação de representantes políticos; a “cegueira social” diante da opressão política e econômica.
Respostas
A reflexão de La Boétie sobre as causas de servidão voluntária se aplicam à vida política brasileira atual (estrutura da dominação, encantamento e costume).
A vida política nacional e a servidão voluntária do povo
De acordo com o artigo 1º, parágrafo único, da Constituição Federal, todo poder emana do povo e em nome dele será exercido por seus representantes.
Isso significa que a população é quem possui o verdadeiro poder para eleger seus representantes por meio do processo eleitoral, porém não tem consciência desse poder.
Um exemplo dessa falta de conscientização é o chamado voto de cabresto ou compra de votos por meio de cestas básicas, promessas de emprego, etc. O exercício do voto não pode ser coagido, porém a população humilde acredita que deve cumprir com a promessa de votar em determinado candidato em troca de auxílio material.
A compra de votos, prática ilícita, exemplifica a estrutura de dominação (1) existente no processo eleitoral brasileiro, em que os detentores do poder usam a população carente como massa de manobra para obter a eleição de seus representantes.
A estratégia de encantamento (2), por meio de campanhas eleitorais com dispêndio de recursos públicos e disseminação de fake news, também fazem parte do processo eleitoral brasileiro. A imagem leva às pessoas a escolherem seus representantes sem questionar seus verdadeiros interesses e plataformas políticas.
Por fim, o costume (3) faz com que as pessoas acreditem não ser possível mudar a estrutura do sistema político brasileiro, pois as coisas sempre ocorreram dessa forma. A conformidade com o estado de coisas atual faz com que as pessoas não participem e não cobrem seus representantes para mudar a realidade do nosso país.
Portanto, conclui-se que as ideias de La Boétie possuem plena aplicação no cenário político atual.
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