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No final do século XVI, pode-se
dizer que boa parte da faixa
costeira estava colonizada pelos
europeus e que a população nativa
do litoral havia sido cultural e
fisicamente submetida, expulsa ou
exterminada.
A catequese, as doenças e a
escravidão terminaram por destruir
a cultura material e espiritual dos
indígenas, vencidos da história. A
ordem social vencedora nas terras
brasileiras baseava-se sobretudo
nos valores dominantes
portugueses.
A consolidação da conquista
territorial portuguesa variou em
cada região de acordo com a
capacidade de os povoadores
superarem os desafios locais,
obterem escravos e exercerem uma
atividade econômica lucrativa e
envolvida de um modo ou de outro
com a produção de riquezas para a
exportação e a possibilidade de
adquirir bens europeus.
Nesse sentido, o principal fator
que possibilitou a viabilização da
colônia foi o sucesso da economia
açucareira. Nos locais de terras e
clima favoráveis à produção do
açúcar, como as capitanias da
Bahia e Pernambuco, a ocupação
portuguesa avançou rapidamente.
A de São Vicente, mesmo não
possuindo engenhos poderosos,
pôde desenvolver-se
economicamente graças ao
bandeirantismo.
Em menos de cem anos após o
descobrimento do Brasil, os
portugueses já haviam conseguido
consolidar seu domínio.
Mostraram-se, com relação a isso
superiores aos nativos e aos
franceses, duas das primeiras
ameaças aos seus projetos. A
partir daí, a economia açucareira
adquiriu grande impulso, a
população branca, negra e mestiça
cresceu rapidamente (com a
imigração, o tráfico e o aumento
da natalidade) nas regiões mais
desenvolvidas e o controle
administrativo tornou-se mais
eficiente. Do final do século XVI
em diante, aumentou o número de
engenhos, o que fez crescer o das
vilas e cidades.
[...]
A população da colônia foi se
constituindo de tipos variados:
portugueses e europeus de outros
países, além de vários grupos
indígenas e africanos e da
miscigenação, que foi grande,
embora as uniões de brancos com
índios e negros não fossem
prestigiadas e boa parte delas
tivessem sido constituídas com
base na violência.
Da cultura indígena tupi-guarani
do litoral só restaram traços
incorporados pela população
brasileira.
No que se refere ao intercâmbio
cultural [...] muitos observadores
do século XIX se chocavam com a
pouca roupa usada pelos homens
e mulheres brasileiros (mesmo
ricos), quando estavam na
intimidade e fora das vistas de
estranhos. Era um hábito bem
consequente e saudável para o
clima tropical que só foi aceito e
assumido na segunda metade do
século XX. A redução ao mínimo
das roupas íntimas, o uso de
shorts, bermudas, biquínis,
camisetas e blusas leves,
minissaias, tão comuns em nossa
época, foi inconcebível até a
primeira metade do século XX em
que se exigia a submissão total às
modas oriundas de outras
paragens mais frias e formais. O
brasileiro da Colônia e do Império
adotou costumes adequados dos
indígenas, mas só na intimidade
quando não podia ser visto ou
criticado pelos donos da verdade
civilizada.
A imagem do Brasil, tal como foi
vista pelos colonos, burocratas,
jesuítas e visitantes, influenciou as
opções do povoamento. Os
recursos naturais já conhecidos e
utilizados pelos indígenas de uma
forma cuidadosa e sábia foram em
grande parte depredadas num
aproveitamento desenfreado dos
colonos e dos brasileiros de hoje.
Tal foi o caso do pau-brasil, que
praticamente desapareceu no
século XVII; a mesma sorte tiveram
os cajueiros do litoral e inúmeras
outras frutas naturais depredadas
sem qualquer preocupação de
replantio. A destruição da
vegetação dos mangues,
indispensável para a reprodução
da fauna marítima - moluscos,
mariscos, ostras, caranguejos e
peixes - não cessou até hoje e
mesmo se agravou, com os
elevados índices de poluição.
O patrimônio florestal, com exceção
da Amazônia ameaçada, foi todo
desperdiçado, assim como a fauna,
na qual espécies inteiras
desapareceram. Os rios, que
durante vários séculos
alimentaram a população, hoje são
depósitos de esgotos e a sua
poluição ameaça a vida humana.
Aliás, muitos estão em vias de
ressecamento pela eliminação total
das matas ciliares e as que cercam
as nascentes.
As maravilhosas riquezas naturais,
que tanto deslumbraram os
primeiros observadores,
fomentaram, até certo ponto, a
crença da abundância fácil, sem
trabalho e infindável. A ilusão da
existência permanente de novas
áreas virgens para a ocupação
econômica criou atitudes, visões
de mundo e táticas de exploração
econômica em que tudo era tirado,
destruído e abandonado à própria
sorte sem reposição alguma. [...]
A escravidão indígena e a negra
foram em boa parte responsáveis
pela desmoralização do trabalho, o
qual ficou relegado às massas
exploradas até a morte. Estudos
modernos confirmam observações
da época que constataram o
espantoso desperdício de vidas
humanas determinado pela
escravidão no Bra
dizer que boa parte da faixa
costeira estava colonizada pelos
europeus e que a população nativa
do litoral havia sido cultural e
fisicamente submetida, expulsa ou
exterminada.
A catequese, as doenças e a
escravidão terminaram por destruir
a cultura material e espiritual dos
indígenas, vencidos da história. A
ordem social vencedora nas terras
brasileiras baseava-se sobretudo
nos valores dominantes
portugueses.
A consolidação da conquista
territorial portuguesa variou em
cada região de acordo com a
capacidade de os povoadores
superarem os desafios locais,
obterem escravos e exercerem uma
atividade econômica lucrativa e
envolvida de um modo ou de outro
com a produção de riquezas para a
exportação e a possibilidade de
adquirir bens europeus.
Nesse sentido, o principal fator
que possibilitou a viabilização da
colônia foi o sucesso da economia
açucareira. Nos locais de terras e
clima favoráveis à produção do
açúcar, como as capitanias da
Bahia e Pernambuco, a ocupação
portuguesa avançou rapidamente.
A de São Vicente, mesmo não
possuindo engenhos poderosos,
pôde desenvolver-se
economicamente graças ao
bandeirantismo.
Em menos de cem anos após o
descobrimento do Brasil, os
portugueses já haviam conseguido
consolidar seu domínio.
Mostraram-se, com relação a isso
superiores aos nativos e aos
franceses, duas das primeiras
ameaças aos seus projetos. A
partir daí, a economia açucareira
adquiriu grande impulso, a
população branca, negra e mestiça
cresceu rapidamente (com a
imigração, o tráfico e o aumento
da natalidade) nas regiões mais
desenvolvidas e o controle
administrativo tornou-se mais
eficiente. Do final do século XVI
em diante, aumentou o número de
engenhos, o que fez crescer o das
vilas e cidades.
[...]
A população da colônia foi se
constituindo de tipos variados:
portugueses e europeus de outros
países, além de vários grupos
indígenas e africanos e da
miscigenação, que foi grande,
embora as uniões de brancos com
índios e negros não fossem
prestigiadas e boa parte delas
tivessem sido constituídas com
base na violência.
Da cultura indígena tupi-guarani
do litoral só restaram traços
incorporados pela população
brasileira.
No que se refere ao intercâmbio
cultural [...] muitos observadores
do século XIX se chocavam com a
pouca roupa usada pelos homens
e mulheres brasileiros (mesmo
ricos), quando estavam na
intimidade e fora das vistas de
estranhos. Era um hábito bem
consequente e saudável para o
clima tropical que só foi aceito e
assumido na segunda metade do
século XX. A redução ao mínimo
das roupas íntimas, o uso de
shorts, bermudas, biquínis,
camisetas e blusas leves,
minissaias, tão comuns em nossa
época, foi inconcebível até a
primeira metade do século XX em
que se exigia a submissão total às
modas oriundas de outras
paragens mais frias e formais. O
brasileiro da Colônia e do Império
adotou costumes adequados dos
indígenas, mas só na intimidade
quando não podia ser visto ou
criticado pelos donos da verdade
civilizada.
A imagem do Brasil, tal como foi
vista pelos colonos, burocratas,
jesuítas e visitantes, influenciou as
opções do povoamento. Os
recursos naturais já conhecidos e
utilizados pelos indígenas de uma
forma cuidadosa e sábia foram em
grande parte depredadas num
aproveitamento desenfreado dos
colonos e dos brasileiros de hoje.
Tal foi o caso do pau-brasil, que
praticamente desapareceu no
século XVII; a mesma sorte tiveram
os cajueiros do litoral e inúmeras
outras frutas naturais depredadas
sem qualquer preocupação de
replantio. A destruição da
vegetação dos mangues,
indispensável para a reprodução
da fauna marítima - moluscos,
mariscos, ostras, caranguejos e
peixes - não cessou até hoje e
mesmo se agravou, com os
elevados índices de poluição.
O patrimônio florestal, com exceção
da Amazônia ameaçada, foi todo
desperdiçado, assim como a fauna,
na qual espécies inteiras
desapareceram. Os rios, que
durante vários séculos
alimentaram a população, hoje são
depósitos de esgotos e a sua
poluição ameaça a vida humana.
Aliás, muitos estão em vias de
ressecamento pela eliminação total
das matas ciliares e as que cercam
as nascentes.
As maravilhosas riquezas naturais,
que tanto deslumbraram os
primeiros observadores,
fomentaram, até certo ponto, a
crença da abundância fácil, sem
trabalho e infindável. A ilusão da
existência permanente de novas
áreas virgens para a ocupação
econômica criou atitudes, visões
de mundo e táticas de exploração
econômica em que tudo era tirado,
destruído e abandonado à própria
sorte sem reposição alguma. [...]
A escravidão indígena e a negra
foram em boa parte responsáveis
pela desmoralização do trabalho, o
qual ficou relegado às massas
exploradas até a morte. Estudos
modernos confirmam observações
da época que constataram o
espantoso desperdício de vidas
humanas determinado pela
escravidão no Bra
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