Respostas
Muitos dos estudos sobre o clítico se, em língua portuguesa, estão ligados às
discussões sobre a diferenciação entre índice de indeterminação do sujeito e partícula
apassivadora. Segundo as gramáticas tradicionais da língua portuguesa, o se deve ser
classificado como partícula apassivadora, quando acompanhado de verbo transitivo direto,
tendo sujeito definido simples, que deve concordar com o verbo que se encontra na voz passiva
sintética, ou índice de indeterminação do sujeito, quando acompanhado de verbos intransitivos,
transitivos diretos ou de ligação, que devem ser empregados na terceira pessoa do singular.
Por se tratar de uma análise puramente formal, não possui explicações funcionais que
levem em consideração questões semânticas. Construções como Vende/compra-se casas são
consideradas incorretas gramaticalmente, segundo livros didáticos e gramáticas tradicionais.
Estudiosos como Nunes (1991), Monteiro (1994), Bagno (2000) e Camacho (2002, 2003)
constataram que elas ocorrem com frequência tanto em linguagem popular como culta.
Para analisar as construções com se, utilizou-se o corpus do projeto SAL2
(Systemics
Across Languages), formado por 1225 artigos científicos escritos em língua portuguesa,
coletados aleatoriamente do Scielo, plataforma digital que contém periódicos nacionais bem
avaliados pela Qualis3
.
Esse corpus foi submetido ao tratamento computacional possibilitado pelo programa
WordSmith Tools 5.0 (Scott, 2008) e suas ferramentas, entre as quais a mais usada é o
Concordanciador, que organiza os dados a partir de um termo selecionado permitindo o estudo
sistemático dos diferentes contextos em que o clítico se ocorre.
As listas de concordância foram analisadas qualitativamente com base na Linguística
Sistêmico-Funcional, proposta por Halliday (1985, 1994) e Halliday & Matthiessen (2004),
que têm como foco a língua em uso, permitindo analisar as escolhas gramaticais feitas pelo
autor em um texto (escrito ou falado) com base no ambiente situacional e cultural. Esta teoria
possibilita analisar a linguagem dos textos através de fatores que dão forma a uma situação de
comunicação definida por três variáveis: campo (atividade social envolvida), relações
(natureza da conexão entre os participantes) e modo (forma de transmissão da mensagem).
Essas variáveis são realizadas pelas 3 metafunções da linguagem: ideacional, interpessoal e
textual, respectivamente.
Esta pesquisa parte da análise de textos reais para descrever o funcionamento de um
clítico complexo da Língua Portuguesa que tem sido objeto de muitos estudos como os
mencionados. Dentre eles, ainda não foi encontrado nenhum baseado em uma análise
minuciosa de textos produzidos em situação real de comunicação, com o uso de ferramentas
computacionais e de metodologia qualitativa da Linguística Sistêmico-Funcional.
Espera-se que a discussão contida neste artigo levante recursos para auxiliar
professores na elaboração de materiais que facilitarão o desenvolvimento da escrita de textos
acadêmicos e outros que utilizam recursos impessoais.