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Desde o início do projeto, Lázaro Ramos tinha a ideia de trazer novas e múltiplas vozes para contar a história do povo negro com um potencial criativo vindo dos próprios personagens. Como o diretor destaca, Medida Provisória é o filme brasileiro com mais negros na frente e atrás das câmeras.
Falar de Dona Diva já seria pauta para uma coluna à parte. A neta de escravizados ficou nacionalmente conhecida após uma participação na FLIP (Feira Literária Internacional de Paraty), em 2017. Da plateia, de onde assistia a apresentação de Lázaro Ramos, tomou o microfone e contou um pouco de sua história sofrida, emocionando não só o ator e diretor, como a todos que estavam presentes. Se você ainda não viu essa cena, recomendo fortemente que você assista ao vídeo após ler esse texto. Desse encontro, surgiu uma amizade com o diretor, que a levou a uma participação especialíssima em “Medida Provisória”.
Dona Diva é enfática ao afirmar que a educação mudou sua vida. Se não fosse pelos estudos, diz que provavelmente nem estaria viva. Por isso, sempre que possível, a ex-professora faz questão de ressaltar: “se você quiser vencer, você vai ter que estudar”. Ou, como definiu em sua participação na FLIP, “o preconceito e o racismo matam. A educação salva”.
Enquanto mulheres precisam provar o seu valor o tempo todo, com as mulheres negras a carga é muito mais pesada. Por isso, a escritora e filósofa Djamila Ribeiro afirma: “A gente não é criada para ser feliz. Parece que você tem que sempre estar triste, não pode celebrar. Quando a gente consegue, em meio a tantas opressões, a tantas imposições, ser feliz, é muito revolucionário. Porque as pessoas não esperam e a gente acha que não merece esse lugar”.
A verdadeira história do Brasil
As falas de Dona Diva e Djamila, assim como de muitas outras vozes negras, nos deixam uma reflexão. No Brasil, quem conta a história da escravidão? Em “Medida Provisória”, a personagem de Taís Araújo reivindica: “O Brasil é meu também”. Frase que corrobora com a fala da atriz em “Amor de Mãe”, novela onde interpreta uma advogada bem-sucedida: “A História do Brasil que a gente estuda nos livros foi contada por quem?”
Na vida real, Taís Araújo, além de principal incentivadora do marido na direção do filme, resume um pouco o sentimento pós-créditos:”Quando acaba o filme, a sensação é de muita esperança e de força. Tem jeito, esse país é nosso, e a gente vai pegar ele pra gente.”
Pela posição que ocupo, e como uma aliada do movimento, sinto que tenho o dever de jogar luz em uma pauta como essa. Ainda que não tenha a vivência em relação às dores pelas quais passam as mulheres negras do nosso país. Apoiar iniciativas como o Cotas Sim, que combate o racismo estrutural no ambiente universitário e concursos públicos, é apenas uma das ações para conseguirmos modificar essa realidade.
A mudança só será possível se todos estiverem conscientes e atentos. Eu acredito que é possível.
Abolição da escravatura?
Para terminar a conversa deste mês, destaco outra voz negra poderosa, a da ativista Angela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. Por isso, capacite, contrate e acolha mulheres negras (atenção a equidade salarial). Convide-as para conversas, palestras e workshops (escute suas histórias). Consuma seus livros, músicas, filmes e conteúdos. Precisamos enaltecer e dar real visibilidade ao potencial de tantas mulheres negras Brasil afora.
Dados relevantes: Quase metade dos lares brasileiros são sustentados por mulheres, sendo que as mulheres trabalham em média 7,5 horas a mais do que os homens, por semana (Ipea/2021).
Por fim: 1% dos homens brancos de nosso país recebem mais do que todas as mulheres negras, que correspondem a 28% da população do Brasil (Made/USP).