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O fato de que as pessoas que vivem em um regime democrático não saibam o que é democracia é uma questão por si só muito grave. O saber sobre o que seja qualquer coisa – e neste, caso, sobre o que seja a democracia – se dá em diversos níveis e interfere em nossas ações. Agimos em nome do que pensamos. Mas muitas vezes não entendemos muito bem nossos próprios pensamentos, pois somos vítimas de pensamentos prontos.
Creio que, neste momento brasileiro, poucas pessoas que agem em nome da democracia estejam se questionando sobre o que ela realmente seja. É provável que poucos pratiquem o ato de humildade do conhecimento que é o questionamento honesto. O questionamento é uma prática, mas é também qualidade do conhecimento. É a virtude do conhecimento. É essa virtude que nos faz perguntar sobre o que pensamos e assim nos permite sair de um nível dogmático para um nível reflexivo de pensamento. Essa passagem da ideia pronta que recebemos da religião, do senso comum, dos meios de comunicação para o questionamento é o segredo da inteligência humana seja ela cognitiva, moral ou política.
Eu falo isso do jeito mais simples que posso, porque tenho um interesse profundo, como professora de filosofia, em poder falar com todas as pessoas. Mas eu também sei que a minha forma de falar é extremamente limitada pela minha própria história, por tudo o que estudei e por tudo o que não estudei. Esse saber e esse não saber, quando levados a sério, podem nos ajudar a pensar melhor sobre o que somos e o que fazemos. Acredito que o conhecimento que importa socialmente é aquele que surge como resultado do diálogo que temos que travar não só com os outros, mas com a gente mesmo, ali, dentro da nossa consciência. O conhecimento que surge do encontro das diferenças é o conhecimento verdadeiro. Ele não combina com ideias prontas, com discursos de qualquer tipo. Mas cada um de nós pode cair nesse tipo de coisa, pois somos seres afetivos, o nosso conhecimento é todo forjado a partir de uma posição afetiva, ou seja, relativa ao que sentimos. E nossos sentimentos são manipulados. E é isso justamente o que não devemos saber para que eles possam continuar sendo manipulados.