• Matéria: Português
  • Autor: denylsoncarvalhoroch
  • Perguntado 2 anos atrás

A crise causada pelo vírus da Covid-19 não só expôs a precariedade dos sistemas de saúde na América Latina, mas também evidenciou as desigualdades sociais no processo saúde-doença-cuidado e aprofundou o debate em torno do direito à saúde de grupos e populações vulneráveis, reforçando o caráter social de qualquer pandemia.
No Brasil, o período que antecedeu a pandemia da Covid-19 já era de crises no setor econômico, agravando o déficit histórico de subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS), acompanhado do desmantelamento sistemático das políticas sociais e de saúde. A restrição financeira foi, também, consubstanciada com a aprovação da Emenda Constitucional nº 95, que congelou investimentos em educação e saúde por 20 anos. Portanto, a pandemia se instalou em um país de grandes desigualdades sociais, com populações vivendo em condições precárias de habitação e saneamento, com altas taxas de desemprego e cortes profundos nas políticas sociais.
Antes da pandemia, o Chile vivenciou um momento de intensas manifestações nas ruas, desencadeadas pelo aumento do preço do transporte, mas que refletia, também, a insatisfação pela intensa carga econômica, por desigualdades e injustiças sociais acumuladas ao longo de 30 anos. Essas manifestações explicitaram um montante de adversidades produzidas nas últimas três décadas, levando organismos internacionais a discutir as graves violações dos direitos humanos. Indiscutivelmente, essa crise social se aprofundou com a pandemia da Covid-19, exacerbando a insatisfação dos cidadãos com o governo, os problemas estruturais da seguridade social, a falta de recursos para saúde e educação e as precárias condições de vida das grandes cidades, que revelavam desigualdades e iniquidades, o que sinaliza um impacto importante sobre as populações mais vulneráveis, incluindo os mais velhos, que sempre foram alvo de desatenção e estereótipos.
Em ambos os contextos, observou-se o debate crescente na mídia sobre o lugar social dos mais velhos durante a pandemia e a expressão do ageísmo por diferentes setores da sociedade. O discurso público veiculado nos meios de comunicação, que apresentava a Covid-19 como uma doença perigosa apenas para a pessoa idosa, em virtude de um maior risco biológico de adoecimento e complicações, gerou a dicotomia ‘nós’ e ‘eles’, evidenciada mundialmente e que potencializou estereótipos, preconceitos e discriminação de idade.
Utilizado pela primeira vez pelo gerontólogo e psiquiatra Butler, o termo ‘ageísmo’ se refere à inquietação, à repulsa e à aversão por parte de jovens e pessoas de meia-idade para com o envelhecimento, a doença, a deficiência, além do medo da impotência, da inutilidade e da morte, que costuma ser vinculado às pessoas em razão de sua idade.
O ageísmo pode ser manifestado por meio de três dimensões: cognitiva (estereótipos, imagens e rótulos), afetiva (preconceito) e comportamental (atitudes de discriminação). E pode ser originado a partir de três níveis: o microestrutural, que emerge do próprio sujeito (ageísmo autodirigido), seus pensamentos, emoções e ações; o mesoestrutural, que pode ser oriundo de grupos, entidades sociais, instituições; e o macroestrutural, que emerge dos valores culturais ou sociais como um todo. Sua manifestação pode ser explícita ou implícita e gerar consequências negativas quando se reduz o sujeito à categoria de inútil, frágil e desnecessário, provocando repercussões em diversos âmbitos da vida das pessoas idosas. Assim, no curso da pandemia, o ageísmo atingiu um novo nível com a indexação nas redes sociais da hashtag #BoomerRemover, expressão vulgar que destaca atitudes preconceituosas quanto à idade em resposta à pandemia da Covid-19 e revela o valor que a vida das pessoas idosas tem na sociedade contemporânea. O uso da hashtag permite uma comunicação assíncrona e imediata nas redes sociais, que extrapola fronteiras e fusos horários e possui alcance global instantâneo.

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respondido por: vanessasantosmaria32
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