Respostas
Uma etapa ulterior do fenomenismo empirista é representada por Berkeley. Ele suprime, criticamente, as qualidades primárias, as sensações objetivas de Locke, evidenciando que são semelhantes às secundárias e, logo, também elas subjetivas. E suprime também, definitivamente, o conceito lockiano de substância material, que deveria ter sido a causa misteriosa de nossas sensações, objetivas, visto que, no empirismo, a substância não passa de um nome. Isto não impede que Berkeley - por motivos práticos, morais e religiosos - incoerentemente, conserve ainda no seu empirismo os conceitos de substância, causa e espírito, isto é, os conceitos de substância e causa espiritual. Este resíduo realista e transcendente será definitivamente eliminado pela crítica radical e coerente de Hume, o último e o maior dos empiristas prá-kantianos.
Vida e ObrasJorge Berkeley nasceu em 1685 perto de Dysert Castle, na Irlanda, de uma família de origem inglesa. Estudou no Trinity College em Dublin, formando-se mestre em artes em 1707. Ordenado pela Igreja anglicana, a princípio ensina grego (sua obra, um dia, assumirá um tom platônico), em seguida hebreu e teologia no Trinity College. Entre 1702 e 1710, podemos seguir, em seu caderno de anotações (Commonplace book), a formação de seu pensamento. Desde 1709 ele escreve sua Nova teoria da Visão. Seu Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano é publicado em 1710. As intenções apologéticas de sua obra aparecem claramente nos artigos polêmicos, que escreveu em 1713, no jornal The Guardian, contra as idéias de um célebre livre-pensador, Arthur Collins. Em 1713, igualmente, aparece os Diálogos entre Hylas e Philonous. Berkeley então viaja pela França e pela Itália; em seguida se decide a propagar o pensamento cristão nas possessões americanas da Inglaterra, partindo para as Bermudas, onde sonha fundar um colégio, idéia à qual deve renunciar, posto que o governo inglês não lhe envia os fundos prometidos. Nessa época, ele lê Plotino sobretudo. Ao retornar, é nomeado bispo anglicano de Cloyne. Publica uma nova obra contra os livres-pensadores, "Alciphrom ou o filosofúsculo" (Alciphrom or the minute philosopher). Em 1740, sobrevém uma epidemia na Irlanda, que o improvisa como médico; cuida de suas ovelhas com água de alcatrão (receita que conheceu na América), na qual vê um remédio universal, o que o leva a uma cadeia (seiris, em grego) de reflexões muito platônicas sobre a natureza, a Providência e Deus, que ele nos oferece em sua última obra, "Síris ou Reflexões e pesquisas filosóficas concernentes às virtudes da água de alcatrão e diversos outros temas conexos entre si e originados um do outro" (1744). Na Teoria da Visão, Berkeley parte do seguinte problema (colocado pelo físico Molyneux): Como podemos ver a distância de um objeto? O raio luminoso, orientado perpendicularmente ao olho, só projeta um ponto que invariavelmente é o mesmo, quer a distância seja longa ou curta. Por conseguinte, falando estritamente, não vemos a distância. Um cego de nascença, afirma Berkeley, ao qual fosse dado ver repentinamente, teria a impressão de que todos os objetos tocavam seus olhos (vinte anos após o obra de Berkeley, o cirurgião Cheselden publicará, nas Philosophical Transactions of the Royal Society, a observação de um menino de quatorze anos, operado de catarata, que parece confirmar o ponto de vista de Berkeley. Voltaire, em sua Filosofia de Newton, 1741, torna conhecida essa experiência que Condillac e Diderot discutirão em sua Carta sobre os cegos para uso dos que vêem).
Para Berkeley, a distância, portanto, não é percebida, mas julgada a partir de signos tais como a grandeza aparente ou da luminosidade mais ou menos viva dos objetos. Esse homem pequenino e pouco visível está longe de mim, porque a experiência mostra que quando um homem tem essa grandeza aparente, deve andar por alguns momentos a fim de o tocar. Por conseguinte, a experiência me ensina a interpretar aparências visuais como o sinal da distância maior ou menor dos objetos.
Resposta:
Segundo Berkeley, existe somente a experiência, mas não a realidade experienciada. existe apenas o estímulo na sua mente ao perceber, mas não o objeto percebido que provoca o estímulo. Existe a visão, mas não existe a coisa vista.
E sendo o empirismo a produção de conhecimento a partir da experiência sensível, para Berkeley, tudo empírico, já que tudo quanto existe é experiência apenas, não havendo de onde mais ser proveniente qualquer conhecimento