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Em poucas páginas, em um estilo ousado e objetivo, Kafka criou uma das mais perturbadoras obras da literatura mundial.
Tudo começa com a inesquecível cena de Gregor Samsa acordando e percebendo que se transformou em um inseto monstruoso. É interessante notar, que o que mais impressiona aqui é a naturalidade com que o autor retrata toda a situação de Gregor, ele o faz de uma maneira tão sucinta e objetiva que parece que estamos vendo uma pessoa sofrer de resfriado ou algo assim.
Não existe em nenhum momento aquela reação que se é esperada de uma pessoa que sofre de uma terrível “transformação” física, o que se vê aqui é somente a constatação de que Gregor não poderá naquele dia cumprir o ritual diário de sua vida: acordar cedo, pegar o trem e prosseguir com a sua profissão de caixeiro-viajante. Toda a situação é vista como um obstáculo que impossibilita Gregor de seguir sua vida imediata, cotidiana
Nada na obra de Kafka é escrito sem muita tristeza e desolação, parece que o que ele realmente pretendia ao escrever o livro, era fazer o leitor acordar de um transe profundo no qual este não se da conta de que de uma hora para outra, todos os conceitos e todas as certezas que temos podem ser subvertidos sem qualquer aviso ou prevenção; é como se Kafka nos desse um tapa na cara (como quem diz: acorde para a vida ou as coisas podem mudar e você pode se ver indefeso subitamente).
Esse sentimento de impotência é ressaltado pelo próprio autor em uma carta: “Precisamos de livros que nos afetem como um desastre, que nos angustiem profundamente, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, como ser banido para florestas distantes de todos, como um suicídio. Um livro tem que ser o machado para o mar congelado dentro de nós”
Então Kafka já havia criado uma narrativa singular, cuja sensação de impotência em relação à história é sempre presente não só para Gregor, como também para o leitor
O que resta ao leitor é ter que se conformar com a situação cujo ponto de partida ele desconhece, permanece oculto até o último momento. O que permanece é a dúvida, pois tanto Gregor quanto o leitor não sabe o porque do protagonista ter sido transformado em um inseto.
Isso pode servir como uma metáfora para a própria falta de humanidade e espírito caridoso da grande maioria das pessoas, que em certas oportunidades tratam de forma injusta ou até humilhante seus semelhantes, simplesmente porque estes “causam problemas”.
Isso se reflete em um trecho do livro em que a família de Gregor decide dar fim a toda a situação matando-o (por assim dizer), visto que este último não consegue ajudar no sustento da família, já que não pode trabalhar e garantir mantimentos para esta.
Esse livro funciona como uma espécie de espelho para inúmeras situações que presenciamos em nosso cotidiano, como filhos que resolvem colocar os pais em asilos, porque estes dão muito trabalho e já não ajudam (de uma forma ou de outra), sendo chamados até de “parasitas”, a questão aqui é a seguinte: como você pode simplesmente desprezar alguém que te ajudou a vida inteira porque tal pessoa não corresponde mais as suas expectativas, e como se sentiria essa pessoa? Se você pensou em um inseto, então estamos na mesma conversa, certo.
Parece-me que existe alguma coisa muito errada nesse utilitarismo cego; deixar uma pessoa de lado simplesmente porque não abraçam nossos anseios e expectativas; deve-se reconhecer que tal pessoa teve durante muito tempo, grande importância em nossas vidas, como no caso de Gregor, parece que o fato dele ter trabalhado e ajudado durante longo tempo sua família, não contribui em nada para este ser tratado como um mero “inseto”, seria o mesmo que abandonar uma pessoa doente na família ou um amigo, visto que este não pode mais lhe beneficiar, tratando-o como um nada, um “inseto”.
Ou o que devemos preservar em uma pessoa que nós é importante seja certamente a lembrança, de que essa pessoa é o que ela sempre foi, não o que se parece agora, tendo isso em mente é possível conviver em paz e aceitar essa situação com uma perspectiva diferente da que é mostrada no livro.
Infelizmente para Gregor e para o leitor de Kafka, o mundo que Kafka cria se mostra como sendo o mundo real: não é o mundo do “era uma vez”, mas do “é”, como se pode ler no texto, este uma espécie “significação pura”, tudo é o que é, sem nenhuma atenuação, como na própria vida.
Tudo começa com a inesquecível cena de Gregor Samsa acordando e percebendo que se transformou em um inseto monstruoso. É interessante notar, que o que mais impressiona aqui é a naturalidade com que o autor retrata toda a situação de Gregor, ele o faz de uma maneira tão sucinta e objetiva que parece que estamos vendo uma pessoa sofrer de resfriado ou algo assim.
Não existe em nenhum momento aquela reação que se é esperada de uma pessoa que sofre de uma terrível “transformação” física, o que se vê aqui é somente a constatação de que Gregor não poderá naquele dia cumprir o ritual diário de sua vida: acordar cedo, pegar o trem e prosseguir com a sua profissão de caixeiro-viajante. Toda a situação é vista como um obstáculo que impossibilita Gregor de seguir sua vida imediata, cotidiana
Nada na obra de Kafka é escrito sem muita tristeza e desolação, parece que o que ele realmente pretendia ao escrever o livro, era fazer o leitor acordar de um transe profundo no qual este não se da conta de que de uma hora para outra, todos os conceitos e todas as certezas que temos podem ser subvertidos sem qualquer aviso ou prevenção; é como se Kafka nos desse um tapa na cara (como quem diz: acorde para a vida ou as coisas podem mudar e você pode se ver indefeso subitamente).
Esse sentimento de impotência é ressaltado pelo próprio autor em uma carta: “Precisamos de livros que nos afetem como um desastre, que nos angustiem profundamente, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, como ser banido para florestas distantes de todos, como um suicídio. Um livro tem que ser o machado para o mar congelado dentro de nós”
Então Kafka já havia criado uma narrativa singular, cuja sensação de impotência em relação à história é sempre presente não só para Gregor, como também para o leitor
O que resta ao leitor é ter que se conformar com a situação cujo ponto de partida ele desconhece, permanece oculto até o último momento. O que permanece é a dúvida, pois tanto Gregor quanto o leitor não sabe o porque do protagonista ter sido transformado em um inseto.
Isso pode servir como uma metáfora para a própria falta de humanidade e espírito caridoso da grande maioria das pessoas, que em certas oportunidades tratam de forma injusta ou até humilhante seus semelhantes, simplesmente porque estes “causam problemas”.
Isso se reflete em um trecho do livro em que a família de Gregor decide dar fim a toda a situação matando-o (por assim dizer), visto que este último não consegue ajudar no sustento da família, já que não pode trabalhar e garantir mantimentos para esta.
Esse livro funciona como uma espécie de espelho para inúmeras situações que presenciamos em nosso cotidiano, como filhos que resolvem colocar os pais em asilos, porque estes dão muito trabalho e já não ajudam (de uma forma ou de outra), sendo chamados até de “parasitas”, a questão aqui é a seguinte: como você pode simplesmente desprezar alguém que te ajudou a vida inteira porque tal pessoa não corresponde mais as suas expectativas, e como se sentiria essa pessoa? Se você pensou em um inseto, então estamos na mesma conversa, certo.
Parece-me que existe alguma coisa muito errada nesse utilitarismo cego; deixar uma pessoa de lado simplesmente porque não abraçam nossos anseios e expectativas; deve-se reconhecer que tal pessoa teve durante muito tempo, grande importância em nossas vidas, como no caso de Gregor, parece que o fato dele ter trabalhado e ajudado durante longo tempo sua família, não contribui em nada para este ser tratado como um mero “inseto”, seria o mesmo que abandonar uma pessoa doente na família ou um amigo, visto que este não pode mais lhe beneficiar, tratando-o como um nada, um “inseto”.
Ou o que devemos preservar em uma pessoa que nós é importante seja certamente a lembrança, de que essa pessoa é o que ela sempre foi, não o que se parece agora, tendo isso em mente é possível conviver em paz e aceitar essa situação com uma perspectiva diferente da que é mostrada no livro.
Infelizmente para Gregor e para o leitor de Kafka, o mundo que Kafka cria se mostra como sendo o mundo real: não é o mundo do “era uma vez”, mas do “é”, como se pode ler no texto, este uma espécie “significação pura”, tudo é o que é, sem nenhuma atenuação, como na própria vida.
joaojoaojoao616161:
Muitíssimo obrigadooo!!!
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