TEXTO I
Nova Poética
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim
[branco muito bem engomada,
e na primeira esquina passa um caminhão,
salpica-lhe o paletó de uma nódoa de lama:
É a vida.
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero. (...)
BANDEIRA, M. 1949. Disponível em: www.portalsaofrancisco.com.br.
Acesso em: 5 fev. 2016.
TEXTO II
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Acesso em: 5 fev. 2016.
Os dois poemas aqui apresentados têm natureza
metalinguística e apresentam, também como similaridade,
o fato de expressarem concepções inusitadas sobre a arte
poética. Assim,
a) no texto I, o eu lírico considera que a poesia deve abarcar
aspectos negativos como elementos de conscientização
do leitor.
b) no texto I, a poesia é vista como algo positivo, destinado
a “fazer o leitor satisfeito de si”.
c) no texto II, o eu lírico revela seu natural descompasso
com as coisas simples da natureza.
d) no texto II, diferentemente do que ocorre no texto I,
reverenciam-se temas tidos pela tradição como
apoéticos.
e) nos textos I e II, ainda que por caminhos distintos,
verifica-se temática que privilegia a poética tradicional.
Respostas
respondido por:
5
b) no texto I, a poesia é vista como algo positivo, destinado
a “fazer o leitor satisfeito de si”.
a “fazer o leitor satisfeito de si”.
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