• Matéria: História
  • Autor: descubrasse
  • Perguntado 9 anos atrás

compare as diferenças entre a lenda e a realidade da bastilha segundo simon schama

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respondido por: Anália4412
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A PRISÃO DO ANTIGO REGIME

"[...] Quadros sobre a queda e demolição da Bastilha invariavelmente a mostram mais alta do que de fato era. A maior torre não ultrapassava uns 22 metros, porém Hubert Robert, especialista em grandiosidade de ruínas, conferiu-lhe dimensões babilônicas. Em seus quadros, essas paredes tornam-se escarpas gigantescas que só podiam ser conquistadas pela coragem e pela vontade sobre-humanas do povo. [...] Por certo a Bastilha de sua pintura, com pequeninas figuras escalando as muralhas, sugere um imenso castelo gótico de escuridão e isolamento, um lugar onde homens desapareciam sem qualquer aviso e nunca voltavam a ver a luz do dia - até que os escavadores revolucionários desenterraram seus ossos.

     Essa era a lenda da Bastilha. Sua realidade era bem mais prosaica. [...] Para a maioria dos prisioneiros, as condições não eram tão ruins como em outras prisões [...]. (Quanto a isso, comparada com o que as tiranias do século XX inventaram, a Bastilha era um paraíso.) [...] A maioria dos prisioneiros ocupava celas octogonais, com cerca de 5 metros de diâmetro [...]. Na época de Luís XVI, cada um tinha uma cama com cortinado de sarja verde, uma ou duas mesas e várias cadeiras. Todos tinham um fogão ou estufa, e em muitas celas podiam chegar à janela de barras triplas subindo uma escadinha de três degraus junto à parede. Muitos podiam levar seus pertences e também cães e gatos para acabar com ratos e insetos. [...] A comida - coisa crucial na vida dos prisioneiros - também variava de acordo com a condição social. [...] O escritor Marmontel babava ao lembrar de 'uma sopa excelente, um suculento bife, uma coxa de frango pingando gordura [uma virtude no século XVIII], um pratinho de alcachofras fritas e marinadas ou de espinafre, deliciosas peras de Cressane, uvas frescas, uma garrafa de velho borgonha e o melhor café.

     Ninguém queria ir para a Bastilha. Porém, uma vez lá dentro, a vida dos privilegiados podia se tornar mais suportável. Permitiam-se álcool e tabaco e na época de Luís XVI introduziram-se jogos de cartas para detentos que partilhassem a cela e uma mesa de bilhar para uns nobres bretões que a requisitaram. Alguns hóspedes literatos até viam um certo encanto na Bastilha, pois ali se estabeleciam suas credenciais de opositores de despotismo. [...] Se a monarquia deve ser caracterizada (não de forma completamente injusta) como arbitrária, obcecada com o sigilo e investida de poderes caprichosos sobre a vida e a morte dos cidadãos, então a Bastilha simboliza à perfeição tais defeitos. Se não existisse, pode-se dizer, seria preciso inventá-la.

     E sob certos aspectos ela foi reinventada por uma série de escritos de prisioneiros que realmente sofreram dentro de suas paredes, mas cujos relatos transcendem sua verdadeira experiência na prisão. Estes eram tão vívidos e assustadores que conseguiram criar ferrenha oposição na qual se apoiavam os críticos do regime. [...] A crítica era tão poderosa que, quando a fortaleza foi tomada, a decepcionante realidade da liberação de apenas 7 prisioneiros (dois lunáticos, quatro falsários e um aristocrata delinquente) se viu excluída das expectativas míticas."


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