• Matéria: Português
  • Autor: marciaines
  • Perguntado 9 anos atrás

Após a leitura da crônica selecionada você deve responder às seguintes questões:

1 – Qual é o tema que trata a crônica e qual é o ponto de vista do autor a respeito do tema? Retire do texto um trecho que justifique a sua resposta.

2 – Quais são os tipos de conhecimento prévios necessários para compreensão dessa crônica? Justifique sua resposta com base no material didático, explicando por que os conhecimentos citados são necessários para compreensão do texto.



Coração de cristal
Walcyr Carrasco

Quando minha mãe ficou doente, eu e meus irmãos nos
surpreendemos. Dona Angela
sempre fora tão saudável! Um amigo me alertou:
- Água nos pulmões pode indicar coisa séria.
O diagnóstico confirmou a gravidade: metástase de u
m tumor nas glândulas suprarrenais,
sem possibilidade de operação. Até então não tivera
um único sintoma! Em torno dela se
formou uma rede de silêncios. Nunca gostara de fala
r de doenças de pessoas próximas,
que dirá da sua! Eu brincava:
- Se é água nos pulmões, precisa de um encanador, n
ão de um médico para retirar!
Ela ria. Dentro de mim, um nó diante de sua dificul
dade para respirar, mas tentava elevar
o astral. Aos poucos ela mesma percebeu a gravidade
de seu estado, e as brincadeiras
sumiram de nossos encontros.
Resolveu permanecer em Santos, onde morava. Após a
morte de meu pai, iniciara um
namoro com seu Olimpio, um aposentado de sua idade.
Ele a acompanhava nas
internações, segurava sua mão. O tratamento continu
ou, paliativo. Intimamente eu rezava
para que partisse antes de sofrer demais.
Havia tanto para falar! Muitas vezes, eu e mamãe no
s desencontramos, ao longo da vida.
Sonhava que eu tivesse uma vida estável, com bom em
prego e casa própria. Não entendeu
quando me rebelei para seguir meus próprios caminho
s. Era uma mulher simples que na
infância vivera pobremente, com seus pais, trabalha
dores da roça. Parou de estudar
menina, no 3º ano do antigo primário, quando deixou
a escola para ir colher algodão.
Casada, ajudava meu pai, ferroviário, com um pequen
o bazar, mais tarde vendeu roupas
feitas. Enfim, buscava maneiras de incrementar a re
nda da família. Seu maior medo era
que um dos filhos passasse necessidade. Ao contrári
o de seus desejos, eu me arriscava de
emprego em emprego, buscava outro tipo de vida. Dis
cutimos muitas vezes porque eu
não me preocupava com a segurança que ela tanto amb
icionava. E me distanciei de minha
mãe. Já maduro, não reconstruí essa ponte como gost
aria. Ríamos juntos, conversávamos
sobre a família, mas já não compartilhávamos a vida
.
Agora, diante de seu leito, eu queria dizer que sua
vida valera a pena. Seu carinho, seu
apoio, a certeza de que estava ali haviam sido fund
amentais para eu me tornar o homem
que sou. Mas as palavras não saíam. Ia ao hospital
e falávamos sbre assuntos triviais.
Tantas palavras sufocadas. Eu me despedia, prometia
vol¬tar logo. Aguardava o
momento certo para dizer:
- Foi muito bom ter você na minha vida, mãe!
Mas esse momento parecia não chegar.
Então, um domingo, após estacionar no hospital, res
olvi lhe comprar um presente. Entrei
numa loja próxima. Nas prateleiras repletas de obje
tos indianos e velas decorativas,
descobri um pequeno coração de cristal. Não tive dú
vidas: era ele que eu queria!
Ofereci o coração:
- Vai atrair boas vibrações! - minha mãe me respond
eu com um olhar intenso,
emocionado.
Foi a última vez que a vi com vida. Partiu na quart
a-feira seguinte, de noite. Desci para
Santos. Com meus irmãos, providenciei a despedida.
Uma de minhas sobrinhas visitara
mamãe no dia anterior. Comentou:
- Ela me mostrou o coração que ganhou de você. Não
o largava. E se despediu com ele
na mão!
Não encontramos o coração entre suas coisas. Ao olh
ar sua mão fechada, imaginei que
talvez ele ainda estivesse lá, preso em sua palma,
bem apertado. E me senti reconfortado.
Ela entendera o significado do presente, aceitara a
s palavras não ditas, deixara seu coração
falar. Com o coração de cristal, entregara também o
meu. E mamãe partira levando meu
amor.
CARRASCO, Walcyr. Coração de cristal. Disponível em
:

Respostas

respondido por: barbarahullybh
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1) O texto trata das relações pessoais, foca no ambiente privado/íntimo do autor.O qual transparece que as divergências no relacionamento com a mãe, evidenciadas por "Discutimos muitas vezes porque eu não me preocupava com a segurança que ela tanto ambicionava. E me distanciei de  minha mãe.".... São muitas vezes apaziguadas em momentos de adversidade como a doença da mãe. 

barbarahullybh: 2)Quando se trata de termos científicos como: metástase de um tumor nas glândulas suprarrenais , dando indicar que a mãe sofrera de câncer .E quando informa "o tratamento continuou paliativo." Paliativo significa atenuante, mas está empregado como sinônimo de adiamento.
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