• Matéria: História
  • Autor: IlanaMaiara16
  • Perguntado 8 anos atrás

Por que os Britânicos decidiram sair da União Europeia ?
Visão crítica

Respostas

respondido por: Emilly9372
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Enquanto líderes políticos e empresariais, assim como a imprensa, tentam fazer o rescaldo para entender as razões e as consequências do BREXIT, o plebiscito que levou o Reino Unido a sair da União Européia (UE) em 23 de junho de 2016, cresce um sentimento que é um misto de surpresa com insegurança.
Vivo em Londres desde meados de julho de 2015 e esta é minha segunda passagem pelo país, onde me encontro para um estágio de pós-doutoramento, na City University London. Meu colega e interlocutor, Professor Tim Lang, foi árduo “remain campainer”. Organizou eventos com empresários, pesquisadores, imprensa, escreveu artigos e participou ativamente da campanha. Meu colega, assim como outros britains, consideram o resultado do referendum desapontador e, como eles gostam de dizer, “devastating”.
Mas, porquê, afinal os britânicas resolveram sair da União Européia?
É bom não esquecer que os britânicos sempre tiveram um pé atrás: entraram tardiamente na então Comunidade Européia e não estão entre os signatários do Tratado de Maastrich, que criou a zona do euro e a moeda única.
No Reino Unido, há dois setores sociais que nunca ficaram contentes com a adesão a Europa. Há uma parcela da elite britânica que é saudosista da época do Império. Estes se dividem em dois blocos: o mais radical é o UKIP, Partido para a Independência do Reino Unido, liderado pelo radical Nagel Farage. O outro, mais soft, está alojado dentro do partido conservador. Ambos não descansaram enquanto o agora ex-primeiro-ministro David Cameron, convocasse o referendum.  O segundo é um setor social mais amplo, não organizado formalmente, e se espalha do meio para o norte da Inglaterra, tendo como centro a cidade de Birmingham. Este setor também tem ressonância no País de Gales. Nestas regiões a população enfrenta um processo lento e longo de desindustrialização, muitas cidades estão estagnadas a décadas. Foram estes setores que se identificaram com o bordão “lets take back control” (retomar o controle) e deram a vitória aos que propunham “Sair” (leave).
Mas há outros fatores que precisam ser mencionados para se entender o voto de ruptura que levou ao divórcio entre Inglaterra e União Européia.
Primeiro e acima de tudo: os britânicos votaram contra os migrantes e o risco que eles representam ao sistema de seguridade social (expresso no papel da NHS, um SUS melhorado e que funciona) e as conquistas do welfare-state do pós II Guerra. Não é sem razão que um dos argumentos mais contundentes de Boris Johnson (escritor de livros e ex-prefeito populista de Londres) e o grupo dos conservadores que queriam a saída bradavam na campanha que o Reino Unido deveria parar de enviar 350.000 milhões de pounds por semana para Bruxelas enquanto os junir-doctors da NHS fazem paralizasões. O cidadão comum, especialmente os acima de 60 anos de idade (que são um expressivo grupo da populacão), votaram em defesa de seus direitos. Para estas pessoas, o discurso populista da elite conservadora que acusa Bruxelas por todos os males foi convincente. Com medo, o voto dos britânicos que vivem fora de Londres e em áreas economicamente deprimidas, optaram por culpar os migrantes e acham correto restringir o acesso de mais e mais famílias da Polônia, da Romênia e outros países ao seu sistema de seguridade social.
A segunda razão pela qual os britânicos decidiram se afastar da União Européia se deve o fato de que as pessoas simples não sentem as vantagens de estarem em um bloco econômico supranacional. Tirando o apoio aos agricultores, que recebem subsídios da União Europeia na forma de pagamentos diretos, os demais cidadãos comuns do Reino Unido não percebem ganhos
Claro que os britânicos não deixarão de ser europeus apenas por não estarem num bloco econômico. Mas não há dúvidas que as relações econômicas, políticas e o turismo ficam mais complicados. Quanto? É isso que todo mundo se pergunta
O momento atual é de interrogações, pois na prática se esperava que a saída não aconteceria. Por ser inesperado, não há “mapa do caminho” para trilhar. O artigo 50 da EU será acionado pela primeira vez. Cameron disse que ele não está apto a ser o capitão a levar adiante a nau. Jean-Claude Junker, presidente da União Européia, quer iniciar logo o desenlace. Resta saber como os europeus vão reagir, pois eles são o lado traído desse casamento que chega ao fim. E, como se sabe, o lado traído sempre fica com algum ressentimento
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