• Matéria: Português
  • Autor: LehSalvatore
  • Perguntado 8 anos atrás

Preciso do texto "Liberdade" Por Luiz Mendes pra mim responder algumas questões pfv ajudem eh pra amanhã !!!

Respostas

respondido por: docinho276
3

Liberdade 

Creio que antes de se conquistar liberdade, é preciso primeiro acreditar que ela existe. Depois, e como, de que maneira alcançá-la? É fruto de conquista pessoal ou coletiva? Acho que desenvolvi certas habilidades que, aos poucos, vão fazendo com que me sinta mais livre. Explico-me.

Mais livre porque vou conquistando sabedorias e crescendo pessoalmente a partir delas. Tudo é sedimentar e paulatino, tem um tempo e uma maturação. Se já não somos mais seres naturais, nossas raízes pelo menos continuam fincadas no chão. Como o vinho que tem um ponto de excelência e daí vira vinagre; como qualquer fruta que tem seu pico de doçura muito próximo ao de deterioração, assim vamos nos constituindo. As contingências decompõem todos os planos. Há um pensador que afirma que planos de homens são parecidos com vômito de ratos. Mas de tudo colhemos a essência, o prazer, a arte, o engendramento, em suma, a idéia. E esse é todo material que carecemos para nos desenvolver.

Acredito em liberdade como expansão do ser. Somente quando li Paulo Freire pude entender. Ele diz, em outras palavras, que quando a pessoa apreende o código de comunicação da sociedade humana, faz uma releitura dessa sociedade. Foi o que se deu comigo. Na medida em que empreendi aprendizado, fui ampliando horizontes, respondendo questões, lendo e entendendo melhor a vida.

Exemplificando: possuía preconceito profundo contra polícia. Não gostava de polícia, nem bombeiro escapava. Eram meus inimigos pessoais, enquanto instituição. Desde muito pequeno vinha apanhando dessa gente, para poder raciocinar. Preconceito tem sua raiz na falta de capacidade de raciocínio de sua vítima. Sim, vítima porque preconceito faz sofrer barbaridade. Ódio é dor contida. Estava com 14 anos de idade quando me penduraram pela primeira vez no pau de arara para me torturar. Há essa época já era rotina bater em mim sempre que podiam. Vivi quase toda minha vida na mão deles, sem poder de autodefesa algum, sempre à mercê e à disposição para que fizessem o que quisessem comigo. Nunca tiveram qualquer consideração pelo fato de eu ser humano como qualquer um deles. Ainda agora, pelo fato de haver sido preso, se me param tenho que dar explicações e elas podem não serem bem aceitas.

Quando minha mãe morreu e eu ainda preso, me assustei. Era recém casado (casei e descasei ainda preso) e minha companheira tinha Renato, meu primeiro filho, com 10 meses ainda. Ela era frágil, recém chegada do interior da Bahia e o bairro em que moro estava pegando fogo. Justiceiros, traficantes e ladrões disputavam o espaço. As pessoas estavam sendo mortas ao saírem na porta de casa. Também eu quis que as leis e a polícia protegessem minha pequena família. Estava impossibilitado de olhar por eles. Só então pude entender, de coração, esse engano pessoal e me libertei de mais esse preconceito. Percebi que a gente não deve ser contra a instituição policial por conta dos maus policiais. É necessário que sejamos a favor, mas fazendo parte. Atentos, criticando o que esta errado e exigindo, cobrando: punição, correção e acertos.

Essa releitura ajudou a firmar minha cidadania, meu compromisso assinado com a coexistência social. Eu havia me libertado de um preconceito e todo preconceito é limitador de vivências. Havia me expandido pessoalmente. Apreender é tomar posse de conhecimentos que nos levarão para além do que somos. E desse aprendizado restou a idéia de que para expandir é preciso conhecer e para conhecer é preciso entrar no jogo. Liberdade é sim processo coletivo; é preciso fazer parte. Somos o que apreendemos e apreender é expandir, libertar-se de ignorar. Sou todos que fui em camadas sobrepostas e que não há limites à minha expansão e portanto à minha liberdade.

                                             

Luiz Mendes

30/09/2009.


LehSalvatore: Muito obrigadooooo super me ajudou eu tava tipo morrendo já com isso 'o'
docinho276: nada :)
respondido por: renerjunior30
0
ai ta o texto:
     
                                             liberdade

Tento me reinventar a cada texto. Não suporto me repetir, embora o faça até sem querer. E isso esta se tornando cada dia mais difícil. Já um célebre pensador dizia que depois de Shakespeare ninguém criou mais nada. Sou obrigado a concordar em parte. É só observar o enredo das novelas e dos filmes atuais para enxergar as histórias do grande vate britânico. O que me leva a pensar que não somos livres quanto aos arquétipos históricos. Estamos presos a super permanências históricas e condenados a nos repetirmos.

A população do planeta aumenta 210 mil pessoas por dia; cerca de 3 pessoas por segundo. Essa multidão de novos moradores do planeta vai ficar repetindo o que todos anteriormente fizeram? Liberdade mesmo só existe para aqueles que buscam o novo, inusitado. Tem a ver com expansão, com crescer para todos ao lados. Expandir em termos de conhecimentos para aumentar nossa capacidade de dimensionar a existência.

À medida em que empreendi aprendizado, fui respondendo às minha indagações e entendendo um pouco mais do processo existencial. Então construí uma liberdade especial que pouco tinha a ver com ir e vir apenas. Era um processo ao mundo e às pessoas com meus livros, textos e idéias.

Em muitos momentos, por paradoxal pareça, mesmo aprisionado, estive mais livre do que agora estando do outro lado da muralha. Claro, vou conseguindo por aqui um desempenho bastante razoável. A responsabilidade por nossos dias tangencia a história geral na qual estamos incluídos. No fim, penso, estamos agregados ao destino de todos e temos pequeno espaço para desenvolver o nosso.

Da prisão sai com um único preconceito. Todos os outros a vivência carcerária alijou de uma vez para sempre. Jamais gostei de polícia. Desde muito pequeno, sempre torci para os bandidos. Eram meus inimigos pessoais. Eu os vi cometer muitas barbaridades e sempre com enorme covardia. Sofri demais em suas mãos, desde menino e por décadas.

Então fui pai. Como tudo muda quando temos vidas sob nossa responsabilidade! Nunca havia sido responsável por ninguém. Fui pego inteiramente de surpresa. E estava preso. Vi minha companheira tão frágil e indefesa, com o nenê no colo e comecei a entender meu engano.

Também eu quis sentir que eles estavam protegidos pelas leis e pela polícia. Minha condição de presidiário me colocava inteiramente a mercê. Não podia estar lá para olhar por eles e defendê-los. Essa releitura me ajudou a construir minha cidadania, meu compromisso com a coexistência social. Minha libertação desse preconceito se deu por expansão e não por mudanças pessoais. Todo preconceito limita, cerceia.

Não acredito em transformações ou mudanças. Somos sempre nós mesmos nos fazendo melhores ou piores em relação a tudo o que nos cerca. Quando aprendo tomo posse de um conhecimento que me leva para além do que sou. Posteriormente esse novo entendimento vai ser ponte para novos aprendizados. Sou o que aprende. Aprender é expandir, crescer dentro de si mesmo. Sou todos que fui em camadas superpostas que formam o que sou hoje. Não há limites à expansão.

Com a liberdade não ocorre o mesmo. Somos livres apenas para escolher as regras que mais se adaptam ao nosso sistema pessoal de existência. Vencer um preconceito é avançar em nossa existência. A liberdade de aprender é sempre o primeiro passo e aprender é expandir, ultrapassar, ir além. O homem é um devir, como queriam os existencialistas.

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Luiz Mendes




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