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No entanto, este processo que se desenvolve em escala mundial não tem a possibilidade de impulsionar as forças produtivas em função das limitações estruturais do sistema capitalista nesta etapa da história, como acentua Edmilson Costa: “A globalização incorporou inovações tecnológicas radicais, mas o sistema global de produção não pode desenvolver-se plenamente em função de suas contradições e, especialmente, dado o caráter de insuficiência mundial da demanda solvável”, isso porque, do ponto de vista macroeconômico, quanto mais o capitalismo se desenvolve, mas aprofunda a contradição entre o caráter social da produção e a apropriação privada de seus resultados, especialmente neste período de incorporação generalizada de ciência na produção. Ou seja, no momento em que o sistema tem as maiores possibilidades de desenvolver suas forças produtivas, é exatamente neste momento que está limitado seu potencial de realização das mercadorias em função de insuficiência de demanda efetiva, o que torna muito difícil fechar a equação produção-demanda.
O livro do professor Edmilson Costa discute também o longo processo histórico de concentração e centralização do capital para demonstrar que as atuais empresas transnacionais são frutos da própria natureza do capital, que é de concentrar-se e centralizar-se continuamente e cujo resultado foi a formação dos trustes e dos cartéis no período que vai de 1875 a 1910 e as próprias empresas transnacionais globalizadas da atualidade. Trata-se de um movimento do capital já previsto por Marx em meados da década de 40 do século XIX.
Um dos momentos mais instigantes do livro é quando se analisa o processo de internacionalização da produção. O autor enfatiza que esse processo, comandado pelas firmas transnacionais dos países centrais, está espalhado pelo mundo inteiro, mediante dezenas de milhares de filiais dessas empresas em todos os continentes, o que consubstancia o fato de que este fenômeno, como intuíra Michalet, na década de 80, faz com que a burguesia passe a extrair direta e generalizadamente, pela primeira vez na história, o valor fora de suas fronteiras nacionais.
Esse processo de acumulação transforma as burguesias dos países centrais em exploradoras diretas dos trabalhadores em nível mundial. Até então, a burguesia capturava a mais-valia dos países periféricos, por meio do comércio mundial e da exportação de capitais. Além disso, a globalização também muda o perfil da classe operária, em função dos novos ramos industriais que emergem da terceira revolução industrial, que engloba a microeletrônica, as tecnologias da informação, a engenharia genética, a biotecnologia, os novos materiais, entre outros. Esses novos ramos necessitam de uma classe operária mais instruída e mais especializada.
Esta nova classe, pelo seu perfil e por sua posição no interior da fábrica, pode ser o contraponto efetivo para a emancipação dos trabalhadores, pois não se trata mais de operários tayloristas que cumpriam um trabalho rotineiro e programado no chão da fábrica, mas de um novo contingente, uma nova classe, com um papel muito mais importante e determinado que os operários da segunda revolução industrial. Como o próprio autor sugere polemicamente:
Não deverá ser surpresa se dentro de alguns anos, cientistas assalariados, analistas de sistemas, os engenheiros ou ferramenteiros eletrônicos (os construtores dos chips), os cientistas da genética e da biotecnologia, os físicos da nanotecnologia ou os web designers da internet liderarem um movimento operário e buscarem a transformação necessária para a construção de um novo sistema econômico.
Um outro capítulo instigante é o que analisa a globalização financeira. O autor defende que este fenômeno também ocorre no bojo da internacionalização da produção, mas ganha certa autonomia com o desenvolvimento das finanças, especialmente com o processo de desregulamentação e livre movimentação dos capitais iniciado com os governos Reagan e Thatcher. Essa performance monetarista global, impulsionada pelo neoliberalismo, fez com que o capital pudesse se autoacrescentrar ao longo das 24 horas por dia e desenvolver um sistema financeiro especulativo que subordinou todas as outras esferas do capital aos interesses das finanças.
Para se ter uma idéia, antes da crise econômica mundial, o volume de recursos especulativos que circulavam na esfera financeira eram mais de 10 vezes maiores que aqueles que estavam alocados na órbita da produção. Essa dinâmica especulativa aprisionou o Estado e seu orçamento a serviço do capital financeiro, mediante o aumento da dívida pública e pagamentos de juros cada vez mais crescentes; e também colocou as empresas produtivas a se envolverem crescentemente com os negócios financeiros e com a lógica de curto prazo, invertendo assim o horizonte temporal do planejamento empresarial.