• Matéria: Português
  • Autor: cintiatavares3
  • Perguntado 8 anos atrás

Recado pro bolsinho da camisa
Não sei como você se chama, garoto, mas te vi um dia atravessando o viaduto de concreto.
Caía chuvisco.
Teus cabelos estavam ensopados e a camisa de brim grudada no teu corpo magro e ágil como flecha disparada pelo arco do trabalho.
Você corria saltando no reflexo do asfalto molhado, como bolinha de gude rolada na infância.
Não deu tempo para perguntar teu nome. Tuas pernas finas tinham pressa. Você carregava a maleta de mão com fecho cromado, a dentro dela havia o peso da responsabilidade de papéis sérios e urgentes, que deveriam chegar a um ponto qualquer da Cidade, antes que se fechassem os guichês e portarias.
Outra vez te vi, garoto.
Fazia então um sol redondo e cheio pendurado no travessão do espaço.
Outra vez, teus cabelos úmidos de suor, a camisa de brim manchada, as calças rústicas mostrando a marca da barra que tua mãe soltou de noite, fio por fio, com um sorriso e um orgulho: - O moleque está crescendo!
Não sei como você se chama, garoto.
Te conheço de vista escalando os edifícios, alpinista de elevadores, abridor de picadas na multidão , ponta de lança rompedor nesta briga de foice que são as ruas da Cidade.
Garoto que cresce sob o sol e chuva carregando na maleta cheques, duplicatas, títulos, recibos, cartas, telegramas, tutu, bufunfa, grana e um retrato da menina que te espera na lanchonete.
Teu nome é: - gente.
Inventaram outro nome enrolado para dizer que você é garoto do batente.
Office-boy.
Guri que finta branco, escritório, repartição, fila, balcão, pedido de certidão, imposto a pagar, taxa de conservação, título no protesto e que mata no peito e baixa no terreno quando encontra os olhos da garota da caixa, que pergunta de modo muito legal:
– Tem dois cruzeiros trocados?
Moleque valente que acorda cedo, engole café com pão, fala tchau mesmo, vai pro ponto do ônibus ou estação, se pendura na condução, se vira mais que pião, tem sua turma, conta vantagem, lê jornal na banca, esquenta a marmita, discute a seleção, e depois do almoço bebe um refrigerante gelado e pede uma esfirra com limão.
E depois toca de novo a zunir pela Cidade, conhecido em tudo que é esquina, oi daqui, oi dali, até que a tarde chega e o garoto sai correndo de volta pra casa, vestir o guarda-pó, apanhar a esferográfica, enfiar os cadernos na sacola e enfrentar a escola, o sono, a voz do professor, o quadro-negro, a equação de duas incógnitas, depois de ter passado o dia inteiro gastando sola.
Guri, teu nome é: – gente
Menino de escritório, menino do batente, que agarra o trabalho com unhas e dentes, sem você a Cidade amanheceria paralisada como bicho enorme ao qual houvesse cortado as pernas.
Pois bem: este recado não é para ser entregue a ninguém, a não ser a você mesmo.
Se quiser, guarde-o no bolsinho da camisa.
um dia, quando você estiver completamente crescido, quando tiver bigodes, telefones, papéis importantes para preencher, alguns cabelos brancos; e sua mãe não precisar (ou não puder mais) desmanchar a barra de suas calças que ficaram curtas; quando você tiver de dar ordens de serviço a outros garotos da Cidade, saberá que, para chegar a qualquer lugar, o segredo é não desistir no meio do caminho.
Mas não se esqueça de que as oportunidades não apenas se recebem ou se conquistam.
As oportunidades também devem ser oferecidas para que as pessoas pequenas saibam que seu nome é: – gente.
No futebol da vida, garoto, a parada é dura e a bola, dividida. Jogue o jogo mais limpo que você tiver. Jogue sério.
Não afrouxe se o passe recebido parecer longo demais.
Os mais bonitos gols da vida são marcados pelos que acreditam na força de seu pique.
Ponha esse recado no bolsinho da camisa, guri.
Um dia você descobrirá que a vida nem sempre é a conquista da taça.
A vida é participar do campeonato.
Vai nela, garotão!


2-) a crônica e quase sempre um texto curto, com poucas personagens, e que chama a atenção para acontecimentos ou seres aparentemente inexpressivos dos contidiano. Na crônica lida, o cronista focaliza uma personagem comum na vida urbana.

a) o que chama a atenção do cronista nessa personagem?

b) o cronista diz que inventaram para essa personagem um "nome enrolado": office-boy. Essa personagem é fiscalizada pelo cronista como um ser individual ou como um ser coletivo?

c) em que lugares e em que periodos de tempo o cronista situa sua personagem?

Respostas

respondido por: murilohassan
9
A CRONICA RECADO PRO BOLSINHO DA CAMISA é de MACHADO DE ASSIS ) O que chama atenção do cronista nesse personagem é o fato de ser um menino quase adolescente responsável que já trabalha e estuda a noite . /// O CRONISTA DIZ : "(.....) Moleque valente que acorda cedo, engole café com pão, fala tchau mesmo, vai pro ponto do ônibus ou estação, se pendura na condução, se vira mais que pião,.(....,)"

cintiatavares3: eu nao entendi essa O CRONISTA DIZ: ela se refere a qual alternativa??
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